Jaime Cimenti
O problema não é só o técnico
Antes de sermos cento e tantos milhões de juristas e cientistas políticos no Brasil, como somos hoje, tentando entender as crises federais, muito antes já éramos milhões de técnicos de futebol. Cada um com sua seleção, seus craques, suas táticas e suas dicas de vestiário. No antigo País do Futebol, deitávamos cátedra e botávamos as mãos nos canecos. Noventa, 100 milhões em ação, prá frente Brasil do nosso coração, fomos juntos.
No momento em que escrevo, o Tite está lá na CBF conversando com os dirigentes. Não sei se vai ser contratado ou não. Deram o aviso-prévio indenizado para o Dunga e assessores, que não precisarão mais lidar com a rapaziada custosa da seleção. Na velha tradição do futebol, eu ganho, o time empata e o técnico perde. Quando o treinador perde, por culpa sempre dele, muda-se o técnico e procura-se outro salvador da Pátria de Chuteiras, na esperança de gols, vitórias, faixas no peito e ufanismo. Disso vivemos.
Está meio em cima da hora para pensar em novas estruturas para o futebol, desde os campinhos, as categorias de base, as escolas públicas e privadas, os clubes, até chegar aos altos profissionais da seleção canarinho. Os melhores das categorias de base vão para o exterior e, de vez em quando, pintam para vestir a camisa da seleção, da maneira como estamos vendo, dirigidos e treinados como observamos. Em 2014, consta que uns 4 mil meninos brasileiros jogadores de futebol, menores de idade, foram para o exterior. A grande maioria não deve voltar. Vai jogar na Europa, nos Estados Unidos, África, países do oriente etc.
Tomara que a mudança de técnico e de comissão ajude. Que Deus, Nossa Senhora Aparecida, o Papa Francisco, o Padre Cícero, a Irmã Dulce, o Chico Xavier e todos os santos ajudem. Mas a gente sabe que o buraco é mais embaixo. Sabe que, assim como nas políticas municipal, estadual e federal, não basta mudar os caras e esperar que o herói salve a pátria. Desde a República (1889 até 2015), só 11 presidentes dos 18 eleitos diretamente terminaram o mandato. Precisamos mudar muito, trabalhar muito, juntar muito.
Técnicos da Seleção tivemos vários. Nos últimos tempos, a Seleção Brasileira e nosso futebol passaram, de protagonistas, a coadjuvantes no filme do futebol mundial. Baixou o nível. Se bobear, vamos passar a fazer pequenos papéis, pontas ou figurações. Ou então vamos acabar na plateia, assistindo aos espanhóis e ao resto dando olé. Deus queira que a gente se classifique para a Copa de 2018. Ele há de querer. Tomara que Deus continue brasileiro até 2018. E aí ele há de entrar em campo com pé, mão, cabeça e tudo e fazer com que a gente ganhe um Oscar no filme do futebol mundial, estrelando no papel principal. Vai ser nós na fita!
Quem sabe (tomara!), em 2018, tenhamos política, economia e futebol recuperados. Sim, claro, educação, saúde e segurança também melhores.
a propósito...
Profissionalização do futebol, das administrações público-privadas; democratização dos recursos; trabalho desde as escolas, as escolinhas de futebol, as associações de bairro, os centros comunitários, os clubes e times em geral, com base em experiências que deram certo no estrangeiro. Estímulo para os craques ficarem por aqui. São as únicas saídas para recuperarmos nosso brilho no futebol. Mudar de treinador foi bom, normal, mas não basta só isso. Precisamos entender que perdemos, empatamos e ganhamos, no plural. Precisamos entender que somos todos salvadores da pátria. Ou então que a salvação vai ficar difícil.
(Jaime Cimenti)
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