quinta-feira, 9 de junho de 2016


09 de junho de 2016 | N° 18551
REPORTAGEM ESPECIAL


FURTO E TRISTEZA NA ESCOLA-MODELO DO RS

COLÉGIO AURÉLIO REIS, na Capital, é considerado referência de qualidade no ensino público há cinco anos, quando ficou conhecido por ter um computador por aluno. Arrombadores levaram ontem 110 equipamentos, um prejuízo de R$ 72 mil

Duas das áreas mais críticas do serviço público esta­dual, segurança e educação, se materializaram em um único fato na madrugada de ontem: 110 netbooks e um projetor foram furtados de uma instituição de ensino na zona norte de Porto Alegre. Com 249 alunos, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Aurélio Reis é considerada há cinco anos, pelo próprio governo, uma escola-modelo – até então tinha um computador por estudante, com algumas unidades sobressalentes. O prejuízo, segundo a direção, é estimado em R$ 72 mil.

Conforme a diretora, Nássara Scheck, essa foi a primeira vez que a instituição foi arrombada nos últimos 30 anos, período em que ela trabalha na escola.

– Quando cheguei e vi o portão aberto, as salas arrombadas, netbooks faltando... Me deu uma tristeza. Chorei muito – desabafou.

Os computadores portáteis são o segundo caderno dos estudantes. Trabalhos, notas e pesquisas ficam salvos nos aparelhos, que têm nome e etiqueta colorida, conforme o ano do dono provisório – caso o aluno seja transferido ou se forme, o netbook passa para outras mãos.

Quando necessário, os estudantes podem levá-los para casa. Mas a regra, por ironia, é deixá-los na escola por questão de segurança. A maioria dos netbooks fica dentro de uma sala, onde cada aluno retira seu equipamento com um professor responsável. Na prateleira dos etiquetados em amarelo, onde estavam guardados os computadores da turma 71, não sobrou um.

– Roubaram tudo – exclamou Davi Porto, 13 anos, ao entrar no ambiente revirado.

– Levaram nossos trabalhos – alertou Kemilly Vieira, 12 anos.

– E o de Artes a gente nem apresentou – completou Adriele Ferreira, 12 anos, lembrando dos slides com a história do samba – A gente já não ganha quase nada, e ainda tiram o que tem de bom – lamentou a aluna.

Segundo a direção, dos equipamentos furtados, alguns estavam bloqueados por senhas que inutilizam o aparelho para quem não souber a chave, mas outros estavam com acesso liberado.

– Chama atenção é que trata- se de um colégio grande. Esses bandidos entraram pela porta principal, passaram pela direção e foram direto na sala onde estava o material. Sabiam onde ir – comenta o delegado Alexandre Vieira, da 9ª Delegacia de Polícia da Capital.

A escola não tem câmeras de monitoramento e a polícia ainda não tem suspeitos dos crime.

GOVERNO CANCELOU VISITA AO COLÉGIO

A professora de História Silvana Peixoto lamentou o furto do único data-show que funcionava 100% –os demais costumavam trancar:

– Vou ter de refazer todo o planejamento das aulas, tudo estava baseado na lousa digital.

Nas conversas de corredor, professores já pensavam na Feira de Ciências. Marcada para julho, a mostra ocorreria com os trabalhos salvos nos netbooks levados. Os modelos novos, recebidos pelo governo estadual há menos de dois anos, substituíram os primeiros, entregues entre 2011 e 2012.

Meses antes da primeira doação, o então governador Tarso Genro (PT) esteve na escola e declarou que ela serviria como referência aos colégios gaúchos. Ele mesmo constatou que não havia sinal de vandalismo em classes e paredes, a biblioteca era bem conservada, assim como refeitório, quadra esportiva e salas de aula. Se algo mudou de lá para cá, foi para melhor.

No último final de semana, pais e funcionários fizeram mutirão para refazer a horta com pneus velhos, pintaram galões de água para espalhar lixeiras para material orgânico e seco pela escola e construíram composteiras. Já planejavam reformar a pracinha e criar quiosques com churrasqueiras.

E o governador José Ivo Sartori parece concordar com a gestão anterior nesse ponto. Na terça- feira, segundo a diretora, a assessoria de imprensa do governo havia marcado visita para fazer fotos e coletar dados para publicizar a instituição exemplar. Após o furto de ontem, a equipe teria ligado cancelando. O secretário de Comunicação do Estado, Cléber Benvegnú, disse desconhecer tanto a visita quanto seu suposto cancelamento.

caetanno.freitas@zerohora.com.br vanessa.kannenberg@zerohora.com.br

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