sexta-feira, 10 de junho de 2016


Jaime Cimenti


Paris, o amor, o Dia dos Namorados

O Dia dos Namorados deveria ser o Dia do Amor. Amor ao próximo, aos amigos, colegas, conhecidos, parentes, amor às coisas, à natureza, às ideias, às artes e ciências e tal. Aliás, até já existe o Dia do Amor, com menos Ibope e vendas que o Dia dos Namorados. O amor é mais importante que os namorados. O amor é mais importante que tudo. Deve ganhar no final. Senão, a vida não valeu a pena. Qualquer tipo de amor. Até amor por pedras, tornando-as esculturas ou não, vale.

Amor tem tudo a ver com Paris, a Cidade Luz, e sexo tudo a ver com a língua francesa, a melhor para dizer 'eu te amo' e otras cositas calientes. Língua italiana é tipo música, inglês é mais business, alemão é tecnologia e português um código secreto. Em Paris, os namorados se animam a deixar cadeados simbólicos fechados nas pontes, esperando velhos amores românticos eternos, medievais. Jovens acreditam mais em amores românticos. Os que permanecem jovens também. Noivas de nacionalidades, aparências e idades variadas tiram fotos na frente da Notre Dame, sonhando que aqueles momentos se tornem eternos como as torres da catedral.

Caminhando de mãos dadas pelas aleias, parques e avenidas largas, pelas charmosas ruelas, curtindo um passeio de barco pelo Sena ou um vinho, uma baguete com queijo no entardecer, na beira do rio, ou nos encantadores Jardins de Luxemburgo, os namorados, depois, ainda poderão brincar de Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir no Café de Flore ou no Les Deux Magots. Mas eles não pensarão em casamento aberto, poliamor e outros papos complicados para um início de namoro. 

Não, naqueles momentos, pelo menos, nada de falar de outras pessoas, de altas crises e filosofanças existenciais. Só brincar de pensar, só pensar em brincar. Jantar leve, mas temperado, sobremesa provocante, café e licor energizantes para dois. Aí mais tarde, na hora certa, a porta ou a cortina vai se fechar e a câmera vai mostrar apenas as ondas do mar, como nos filmes antigos.

A manhã seguinte será de luz, amplos espaços, céus e horizontes, petit déjeuner e croissants espreguiçadíssimos, sem hora para terminar e passeios sem roteiro, tempo e guia pelo Marais, com direito a encontros ocasionais, compras absolutamente impulsivas, lances imprevisíveis e - ninguém é de ferro - descanso na Place des Vosges antes do almoço.

Almoço não muito longe, poucos quarteirões, ali na Rue des Rosiers, preço bom, falafel, hummus, shawarma, pita, kafta e outras gostosuras orientais no L'As du Fallafel ou no Mi-va-mi, concorrente da frente, que colocou uma placa botando marra dizendo que é o melhor da rua...

Os namorados vão caminhar um pouco para a digestão e, quem sabe, ali perto, irão ao Museu Carnavalet, fundado em 1880, que conta a história da França, desde as origens até os dias de hoje. Dizem que os franceses são os italianos mal-humorados, mas, claro, isso é brincadeira. Aliás, foram os italianos que ensinaram os franceses a cozinhar tão bem. Os franceses e as outras torcidas. O que é o estudo, né?

A propósito...

Paris tem milhões de atrações. Cada dia mais. Uma das maiores é a sala dos Van Goghs no Museu D'Orsay. O prédio, por si só, é obra de arte. Deve ser a melhor coleção do gênio, que só vendeu um quadro em vida, e cujas obras, hoje, valem milhões de dólares. Arte pura, amor à arte, tons amarelos loucos. Não se sabe ao certo se Van Gogh cortou sua orelha por amor, se calou por amor. O certo é que foi grande namorado das cores, das telas, tintas, dos pincéis, das pessoas, objetos, estrelas, girassóis e paisagens simples, dos amarelos de Arles, da luz e que amou a pintura com a intensidade, a entrega, o desespero, a alegria, a loucura e com tudo mais que só os verdadeiros namorados são capazes de viver.

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