sexta-feira, 24 de junho de 2016



24 de junho de 2016 | N° 18564
REPORTAGEM ESPECIAL

FRAUDE ENVOLVE PT E LEVA EX-MINISTRO À PRISÃO

OPERAÇÃO INVESTIGA DESVIO de verbas de R$ 100 milhões em contratos na área de consignados. Paulo Bernardo foi preso


Um suposto esquema de propina e desvio de recursos a partir de contratos de prestação de serviços de informática no Ministério do Planejamento foi alvo ontem de uma operação da Polícia Federal (PF). Resultado de um desdobramento da Lava-Jato, a Custo Brasil investiga fraudes que teriam gerado suborno de R$ 100 milhões entre 2010 e 2015. O ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo foi preso e há mandado de prisão contra o ex-deputado e ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira (RS), entre outros. A sede do partido em São Paulo está entre os locais nos quais foram realizadas busca e apreensão.

Os investigadores afirmam ter elementos de que foram direcionadas licitações em favor da Consist Software para gerir créditos consignados de servidores federais. Segundo a apuração, “70% dos valores recebidos pela empresa eram repassados a pessoas ligadas a funcionários públicos ou agentes públicos com influência no ministério por meio de outros contratos – fictícios ou simulados”, diz a PF.

A investigação é fruto da delação premiada do ex-vereador de Americana (SP) Alexandre Romano, preso em agosto de 2015. Segundo os policiais, ele foi um dos operadores do desvio nos contratos.

– O Ministério do Planejamento, no coração do governo, incorreu em práticas de corrupção. A organização criminosa era encabeçada pelo então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Depois que saiu do ministério, em 2011, ele continuou no esquema, mas passou a ganhar metade da propina que recebia anteriormente – afirmou o delegado regional da PF em São Paulo, Rodrigo de Campos Costa.

A Consist gerenciava o sistema de concessão de empréstimos consignados a servidores públicos. O custo desse trabalho seria de R$ 0,30, mas a empresa cobrava cerca de R$ 1. Esse recurso extra, de cerca de R$ 0,70 por operação, seria destinado a empresas de fachada, que distribuiriam a propina para políticos.

– O esquema lesou milhares de funcionários públicos que utilizaram esse tipo de crédito – destacou o superintendente regional da Receita Federal, Fabio Ejchel.

A Receita e a Procuradoria-Geral da República participam da operação conjunta. A PF não descreveu com exatidão quanto cada um dos agentes receberia pelo esquema. No início, em 2010, cerca de 10% era destinado a um escritório de advocacia ligado a Bernardo – ele teria recebido R$ 7 milhões. Já Romano, que foi preso em 2015 pela Lava-Jato, ficaria com 20%, destinando parte ao PT.

Bernardo, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, foi preso em Brasília, no apartamento funcional onde estava com a mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). A casa do casal em Curitiba também foi alvo de buscas. Ele tinha medo de ser preso desde 10 de abril de 2015. Naquela data, o ex-deputado federal André Vargas (PR) era levado à prisão durante a 11ª fase da Lava-Jato. Vargas era conhecido por aliados como o operador de Paulo Bernardo desde que o ex-ministro era deputado federal pelo Paraná.

Quando o ex-secretário de comunicação do PT foi preso, no ano passado, Bernardo deixou transparecer sua preocupação a amigos. Achava que seria o próximo. Vargas foi investigado por ter usado um avião alugado pelo doleiro Alberto Youssef, operador de propina na Petrobras. Teve o mandato cassado em 2014 e, depois, desfiliou-se do PT por risco de ser expulso.

A Custo Brasil, coordenada pela Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros de São Paulo, cumpriu 11 mandados de prisão preventiva, 40 de busca e apreensão e 14 de condução coercitiva nos Estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Pernambuco e no Distrito Federal. Em Porto Alegre, foi preso o advogado Daisson Portanova.

O secretário municipal de Gestão de São Paulo, Valter Correia, foi detido – ele já trabalhou no Ministério do Planejamento e pediu demissão do cargo na prefeitura paulistana ontem. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari, já detido pela Lava-Jato, também foi alvo de mandado de prisão.

O ex-ministro da Previdência e da Aviação Civil Carlos Gabas, amigo da presidente afastada Dilma Rousseff, e o jornalista Leonardo Attuch, dono do site Brasil 247, foram chamados a depor voluntariamente e alvo de busca e apreensão. A Harley-Davidson na qual Gabas levou Dilma para passear em Brasília foi apreendida. Ambos negam envolvimento na fraude.

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