sexta-feira, 3 de junho de 2016



Jaime Cimenti
Ivone Pacheco, 34 do Take Five e jazz no Estado


Sempre repito que a bossa nova foi a melhor criação brasileira de todos os tempos, e que o jazz é a mais importante contribuição dos Estados Unidos para o mundo. Admito opiniões em contrário, desde que afinadas.

Nos últimos anos, a Capital, que sempre foi cinemeira, tem se mostrado jazzeira. A segunda edição do Porto Alegre Jazz Festival comprovou isso. Paulo Moreira, homenageado do festival, um dos maiores especialistas em jazz que temos, apresenta, há 17 anos, o Sessão Jazz na FM Cultura 107.7, mostrando tendências, entrevistas, canjas ao vivo e o melhor da música nacional e internacional do gênero. Ele tem tudo a ver com a efervescência do jazz nos últimos tempos em Porto Alegre e outras cidades.

No dia 23 de junho, Moreira, com o auxílio luxuoso do Marco Aurélio Pacheco, o Magrão, transmitiu o programa diretamente do Take Five, que fica no porão da casa da Grand Dame do Jazz Ivone Pacheco. Antes, lá funcionou a discoteca dos filhos dela, nos anos 1970. O Take Five completou, com e sem improvisos, gloriosos 34 anos. Marcos Ungaretti "descobriu" Ivone, que, aos 50 anos, professora estadual de música aposentada, filhos criados, já descobrira que depois de uma vida pessoal e profissional convencional, queria desenvolver sua veia artística e tocar pelo mundo. Como se diz hoje, queria se "reinventar".

Depois das apresentações em família e em festas particulares, Ivone passou a se apresentar em bares, a fazer shows e a tocar em ruas, metrôs e pubs de outros estados e países. Nos anos 1970, em Porto Alegre, no bar Big Som, na Joaquim Nabuco, do saudoso baterista e jazzman Marco Antônio, o jazz rolava.

No início, a família estranhou as paredes pretas do Take Five, os pôsters, as portas abertas, os desconhecidos e a nova opção de vida da mãe e esposa certinha. O clube funcionava toda semana, depois mensalmente e, nos últimos 16 anos, funciona em datas especiais. Canjas de bandas famosas como a Tradicional Jazz Band, de jovens talentos, de músicos conhecidos de Porto Alegre e outros estados sempre foram bem-vindas. Democrática, Ivone sempre recebeu jazzistas de todas as tendências.
O Take Five não tem caráter comercial. Cada um leva sua bebida. Nada é cobrado. O endereço é mantido em segredo até hoje. Vai quem conhece o clube ou alguém que foi lá. A música é o mais importante. Bem jazz. Nada de estrelismos, exageros e egos fosforescentes. Lá a música é maior do que os músicos.

Em Porto Alegre, Canoas, Pelotas, Santa Maria e em outras cidades, o jazz vem sendo objeto de festivais. Talentos jovens como a Banda Marmota Jazz, Michel Dorfman, Max Sudbrack e casas como o Café Fon Fon (Luizinho Santos e Beth Krieger, sax e piano maravilhosos), o Bar Odeon e outros espaços mostram que o movimento artístico-musical surgido em Nova Orleans no início do século XX, depois desenvolvido em Chicago, Nova Iorque e incontáveis lugares, é patrimônio cultural da humanidade e segue encantando.

A propósito...

A história do jazz e de dona Ivone mostram como a liberdade, a criatividade e a música são essenciais. Há quem reclame que o verdadeiro jazz é o do início e que, depois, ele foi muito alterado e influenciado por outros ritmos, formas de tocar e compor. Há quem diga que o jazz comporta a inovação, a fusão, a liberdade criativa e a busca de novos caminhos. Prefiro pensar que o jazz é sinônimo de balanço, liberdade, tradição, novidade e o que vier de bom. Nossa Grand Dame do Jazz mostrou que se pode viver o decorado e o improviso. Ou até, quem sabe, o improviso decorado. A benção, Dona Ivone! Quando os santos aparecerem, queremos estar por perto! Chama Louis Armstrong!

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