01 de junho de 2016 | N° 18540
EDUCAÇÃO
Dia de protestos e nenhuma solução
ESTUDANTES DE ESCOLAS OCUPADAS bloquearam vias da Capital, mas encontro com secretaria teve pouca adesão
O anunciado era que o final da tarde de ontem marcaria o primeiro e muito aguardado encontro para negociação entre o secretário estadual da Educação, Vieira da Cunha, e representantes das dezenas de escolas públicas ocupadas no Rio Grande do Sul. Esperava-se que a sede da secretaria, em Porto Alegre, fosse tomada por alunos participantes do movimento.
A realidade não poderia ter se revelado mais diferente. Quem apareceu para a reunião foram três integrantes do PSOL (a vereadora Fernanda Melchionna, o deputado estadual Pedro Ruas e o dirigente partidário Roberto Robaina), acompanhados por um trio de alunas e uma professora. Vieira da Cunha também não estava. A pequena comitiva foi recebida pelo adjunto da pasta, Luís Antônio Alcoba de Freitas, que se disse surpreendido pela situação.
– Como não há uma liderança unificada, estávamos propondo conversar com os diferentes grupos. Tínhamos marcado com um que achávamos que ia vir hoje (ontem) e com um outro grupo para amanhã. Mas aí eles disseram que hoje seria a questão específica de uma agressão no Colégio Protásio Alves. Existe muita discussão entre eles, mas parece que conseguiram unificar, então a reunião para falar especificamente das ocupações vai ser amanhã (hoje) – afirmou Alcoba de Freitas.
A agressão mencionada ocorreu no começo da noite de segunda, em Porto Alegre. As duas vítimas, ambas participantes da ocupação do Protásio, faziam parte do grupo que foi à secretaria: Ana Paula de Souza dos Santos, 18 anos, e Maria Eduarda Moreira, 17 anos. Além do episódio na Capital, outro caso de agressão, também na segunda-feira, em Caxias do Sul, evidenciou que, após três semanas de escolas ocupadas, há um ambiente de crispação nos estabelecimentos de ensino, opondo os favoráveis e os contrários ao movimento.
– Isso nos preocupa. Queremos evitar que esse clima se forme – afirmou o secretário-adjunto.
O desentendimento registrado no Protásio deu-se entre alunos que participam da mobilização e um grupo que faz curso técnico no colégio. Ana Paula foi agredida por outra aluna, contrária à ocupação. Maria Eduarda tentou apartar e disse ter recebido uma cabeçada no nariz. As duas registraram queixa à polícia e, ontem pela manhã, estiveram no Departamento Médico Legal para submeter-se a exame de corpo de delito.
TENTAMOS DIALOGAR, DISSE ALUNA AGREDIDA
Os alunos dos cursos técnicos, de acordo com decisão feita em assembleia, estavam autorizados a ter aula, mas essa permissão teria sido revertida. Na noite de segunda-feira, quando chegaram à escola, encontraram a entrada fechada. Dois cadeados foram quebrados, uma faixa que sinalizava a ocupação foi rasgada e ocorreram discussões. Foi nesse contexto que Ana Paula sofreu a agressão.
– Tentamos dialogar o tempo todo, explicando a nossa decisão, mas eles começaram a gritar e nos ameaçar. Uma aluna do técnico então puxou os meus cabelos e começou a me bater – contou Ana.
O estudante do curso técnico de Administração William Amaral, 21 anos, que estava no Protásio Alves, alegou que a agressão teria sido um ato isolado, quando os alunos que queriam ter aula já estavam em suas salas. Segundo ele, os estudantes do técnico são mais velhos, estão empenhados em terminar seus cursos e não se opõem, necessariamente, à ocupação. Garante, também, que não houve tentativa de expulsar os ocupantes.
– Por parte da turma não teve briga. Estouramos o cadeado porque queríamos entrar na escola para ter aula. A gente sempre foi a favor da ocupação.
Na rápida reunião ocorrida ontem, o grupo liderado pelo PSOL pediu à secretaria a abertura de uma sindicância para apurar o ocorrido no Protásio. Vieira da Cunha, que chegou pouco depois do término do encontro, afirmou que a decisão sobre a sindicância será tomada depois de uma consulta à direção do colégio.
Antes mesmo de ocorrer, a reunião já estava cercada de questionamentos. No começo da tarde, o presidente da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas (Uges), Marcos Adriano Prestes, declarou a ZH que sequer sabia que haveria uma reunião com a secretaria.
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