sexta-feira, 3 de junho de 2016


03 de junho de 2016 | N° 18542
OLHAR GLOBAL | Luiz Antônio Araujo

Por que Erdogan está furioso

O reconhecimento do genocídio armênio pelo Bundestag, câmara baixa do parlamento alemão, é relevante em razão da posição ocupada pelos dois países na época em que ocorreram os acontecimentos tratados. Dizer que Berlim e Istambul eram aliadas na I Guerra Mundial é, de certa forma, atenuar a história. Os impérios alemão e otomano eram próximos desde o final do século 19.

A primeira batalha da guerra – a perseguição malsucedida da Marinha britânica aos cruzadores alemães Goeben e Breslau, iniciada em 28 de julho de 1914 – envolveu as duas nações e tornou praticamente inevitável a entrada dos otomanos na guerra ao lado dos germânicos. 

Havia conselheiros militares alemães em Istambul enquanto armênios estavam sendo mortos na Anatólia. A resolução aprovada ontem em Berlim reconhece todos esses fatos. É, antes de mais nada, um gesto de solidariedade e de justiça em relação aos armênios.

Não é por ressentimento histórico, porém, que o governo turco está furioso com a resolução do Bundestag. Ao concordar em receber sírios que a União Europeia (UE) não se interessa em acolher, o presidente Recep Tayyip Erdogan fez um imenso favor à chanceler Angela Merkel e a seus parceiros. Isso não impediu uma enxurrada de críticas ao acordo UE-Turquia, que envolve, entre outras coisas, a promessa de destravar as negociações para ingresso no bloco europeu.

Interessado em utilizar a boa vontade europeia como trunfo interno, Erdogan terá agora de se posicionar diante de uma resolução que mina seu discurso nacionalista.

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