terça-feira, 21 de junho de 2016


21 de junho de 2016 | N° 18561
ARTIGOS -  EDUARDO K. M. CARRION*

DO TEMPO DA INOCÊNCIA AO DA CONSCIÊNCIA


A corrupção sistematizada e sistêmica não era de todo desconhecida dos analistas e especialistas. De todo modo, surpreende a dimensão que adquiriu nas últimas décadas. O mensalão pareceu por momentos o ápice de um processo. Sucedeu-se a Lava- Jato e hoje já se sabe que a Petrobras é apenas parte de um conjunto bem mais amplo. 

Mais ainda: a corrupção atinge o mundo político de Norte a Sul, de Leste a Oeste, sem limites partidários ou ideológicos, salvo poucas ou raras exceções, que não descaracterizam o sentido principal. Podemos talvez dizer que, em face das revelações e das denúncias que se sucedem, estamos finalmente deixando o tempo da inocência para ingressarmos no tempo da consciência. Espera-se ao menos.

Tempo da consciência esse, que talvez nos permita redirecionar nossa vida política, resgatando uma dimensão efetivamente republicana. Tempo da consciência esse, que pressupõe deixarmos de lado o pensamento unilateral e, portanto, parcial, que só identifica o malfeito – senão o pecado, numa leitura religiosa que no mundo da política vira estreiteza e sectarismo – no outro lado da barricada, aprisionados numa lógica amigo x inimigo, que só favorece objetivos estreitos e sectários.

O momento, apesar das aparências, revela-se finalmente auspicioso e promissor, momento raro e cheio de possibilidades para repensarmos nossa política e nosso futuro e para aprofundarmos e melhor qualificarmos nossa experiência democrática. Mudando os personagens, seguramente, mas também reavaliando nossas instituições e práticas políticas.

*Professor titular de Direito Constitucional da UFRGS e da FMP

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