13 de junho de 2016 | N° 18554
DAVID COIMBRA
Morte americana
De quantos idiotas você precisa para fazer um mundo?
O homem que invadiu uma boate gay em Orlando e matou 50 pessoas é, obviamente, um idiota. Seres humanos violentos são sempre idiotas.
Tudo indica que esse seja um idiota homofóbico, com chance também de ser idiota religioso, racial ou político, mas a motivação do idiota é sempre secundária. Há idiotas homofóbicos, idiotas homossexuais, idiotas religiosos, idiotas ateus, idiotas de esquerda, idiotas de direita. O importante, para o idiota, não é a causa. O mesmo idiota pode cometer idiotices em defesa de causas opostas. O importante, para ele, é exercer sua idiotia.
Há idiotas em toda parte. Nos Estados Unidos, no Brasil, na China, no Uruguai, aí do seu lado e aqui do meu. O problema é quando você dá ao idiota a possibilidade de entrar em um shopping com um punhado de dólares e sair de lá com um rifle de repetição.
É o que acontece nos Estados Unidos, país onde 89% das pessoas possuem armas. Amantes das armas argumentarão que no Brasil se mata muito mais do que nos Estados Unidos. É verdade.
O número de assassinatos no Brasil é guerra civil, mais de 64 mil pessoas por ano, enquanto nos Estados Unidos, que têm quase o dobro da população, esse número é de 17 mil.
A natureza da violência, porém, é diferente. No Brasil, mata-se por profissão. A morte é decorrência do roubo, do assalto, do sequestro, da disputa de gangues rivais. É morte sistêmica, produto da violência urbana.
Nos Estados Unidos, a morte se dá pela ação de um fanático ou de um doente mental. De um idiota. A diferença é que, nos Estados Unidos, os idiotas têm acesso livre às armas mais letais. No Brasil, nem tanto.
Libere o acesso às armas no Brasil e as chamadas pessoas “de bem” não terão como se defender, como muitos acreditam. Ao contrário, as pessoas de bem terão uma preocupação a mais: a de lidar com idiotas armados.
Mas, calma, não me iludo: sei que no Brasil e nos Estados Unidos não há como fazer como se faz em países como a Inglaterra. Na Inglaterra, até pouco tempo atrás, nem a polícia usava armas. No ano passado, a Scotland Yard deu dois tiros, em Londres. DOIS tiros!
Ocorre que a Inglaterra, como você sabe, é uma ilha. Não há fronteiras. É fácil de controlar a entrada de armas. No Brasil e nos Estados Unidos, as fronteiras são amplas e porosas. Tempos atrás, li que só na Amazônia havia 20 mil aeroportos clandestinos. Quer dizer: é impossível impedir totalmente o contrabando de armas ou do que quer que seja.
Portanto, se você mora no fundo do campo de uma estância de Rosário, por exemplo, você haverá de ter algum tipo de proteção. Mas nunca o acesso franco a um arsenal militar, como acontece nos Estados Unidos.
A função da arma é ferir outras pessoas. O que, a princípio, nunca é bom. É preciso ter cuidado. Tempos ásperos, como os nossos, geram mais aspereza. Lembre-se: o ruim sempre pode piorar.
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