01
de maio de 2015 | N° 18149
MOISÉS
MENDES
Nós, os índios
Soltaram
os empreiteiros presos em Curitiba. Deveriam ter soltado? Há quem acredite que
eles estavam presos apenas para que virassem delatores. Foram quase seis meses,
e a maioria aguentou.
Não
se imagina que o clube do superfaturamento tenha o peito de se reunir de novo
para trocar charutos e obras e acertar a propina de Pedro Barusco, o único
ladrão avulso. Até porque Barusco não deve estar precisando de mais nada.
Os
empreiteiros só voltarão para a cadeia se os advogados cometerem barbeiragens.
Se forem advogados medianos e buscarem informações com a turma impune do
mensalão tucano, adiós, cárcere.
Pelo
que se deduz do que dizem alguns juristas, é mais fácil o ex-governador Eduardo
Azeredo ser condenado em primeira instância em Minas, pelo mensalão do PSDB, do
que um empreiteiro voltar para a cela.
Não
há dúvida de que o juiz Sérgio Moro irá condená-los. Mas aí teremos os
recursos. Leiam o que diz o jurista Dirceo Torrecillas Ramos, professor da USP,
ouvido pelo jornal O Globo: se forem condenados, eles vão aguardar em
liberdade, enquanto apelam ao Supremo; isso pode demorar muitos anos e
possivelmente muitos já estarão até mortos.
Você
acreditou que finalmente agora seria diferente, que pegariam os grandes
corruptores. Não entusiasme tanto as crianças, os amigos e os colegas.
Corruptor
brasileiro tem a chance de morrer antes da condenação. Seus operadores também.
O doleiro Youssef é velho conhecido da Justiça. Há uma década, foi processado
por corrupção, fez delação e foi solto ao apontar a bandidagem do famoso caso
Banestado, do Paraná.
O
juiz Moro homologou o acordo de delação de 2004. Mas Youssef voltou a lavar
dinheiro para quem aparecesse com dinheiro sujo. Moro está de novo diante de
Youssef, que voltou a dedurar todo mundo. Moro condenou Youssef, em setembro do
ano passado, a quatro anos de cadeia, pelos crimes lá do primeiro processo. E
também o condenou, na semana passada, a nove anos de prisão pela lavagem na
Petrobras.
Você
tem o direito de imaginar que Youssef e Moro se encontrarão para sempre, de
tempos em tempos, reproduzindo a sina de bandido e mocinho de faroeste.
E
nós, os índios, o que fazemos? Nós ficar aqui na colina com a cara de Cavalo
Abobado.
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