quarta-feira, 13 de maio de 2015


13 de maio de 2015 | N° 18161
MARTHA MEDEIROS

Chardonnay tinto

Outro dia fui a um bistrô com um amigo. Eram 21h30min e havia pouca gente. Carta de vinhos inexistia, tal a escassez de opções. Tudo bem. Pedi um cálice de espumante e meu amigo um cálice de chardonnay. Meu espumante veio morno e sem gás, e descobrimos que existe chardonnay tinto.

Com a quantidade de problemas que o Estado tem para resolver, falar sobre o serviço dos estabelecimentos comerciais parece frivolidade, mas não é. Em um mercado competitivo, mau atendimento é fator de descarte. Talvez os empresários gaúchos não estejam dando a devida atenção ao assunto porque sua concorrência também oferece um atendimento sofrível. É possível que pensem: para que investir em treinamento? Quem for menos pior está no lucro.

É comum encontrarmos atendentes desinformados, mas o que mais espanta é a displicência diante do cliente. Nos supermercados é visível o desleixo de rapazes e moças de todos os setores. Uma rede em especial me tira do sério e só frequento para emergências. Como costumo ir cedo, já desisti de ser atendida na peixaria, por exemplo. É a hora do café do funcionário e o balcão fica às moscas. 

Não existe um gerente no local que explique a razão de não haver um substituto. Ninguém se responsabiliza. Esqueça o peixe. Compre frango, patinho, alcatra ou volte mais tarde, e torça para chegar num momento em que o rapaz não esteja ocupado, comentando os resultados do Brasileirão com algum colega.

Como se sabe, a pessoa mais importante para os funcionários, durante o expediente, é o colega. O cliente não passa de um estorvo que interrompe a conversa agradável que eles estão tendo sobre a novela, sobre o gol perdido pelo centroavante, sobre os dias que faltam para eles saírem de férias. Não é proibido conversar, mas seria simpático se fizessem isso com discrição e quando não houvesse cliente em volta.

O cliente gosta de ser percebido. O cliente gosta de ver o funcionário focado no que está fazendo. O cliente gosta de saber que está deixando seu dinheiro numa empresa que valoriza sua presença. Outro dia passei com um carrinho lotado de compras ao lado de dois garotos que, em tese, deveriam estar no estacionamento do súper para ajudar os clientes a descarregá-las, mas ambos estavam ocupados com uma competição de arrotos. Sem problema, posso tranquilamente descarregar minhas compras sozinha, mas preferiria que os meninos estivessem competindo por uma gorjeta.

Generalizando: no Rio Grande do Sul, cliente é um mal necessário. E a culpa dessa distorção não é do empregado, e sim do patrão. Do dono do bistrô que não treina seu garçom, da dona da loja que não adverte a balconista que masca chiclete enquanto mostra o produto, do dono do supermercado que não estabelece normas de conduta.

Aos que atendem de forma cortês e eficiente, nossa fidelização e cumprimentos. Aos relapsos, parafraseio o querido Anonymus Gourmet: não voltaremos.


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