10 de maio de 2015 | N°
18158
MOISÉS MENDES
Carine e Fachin
Se conseguir ocupar uma cadeira no Supremo, o jurista
Luiz Edson Fachin oferecerá um aprendizado a todos os que um dia tiverem o
sonho e a chance de almejar tal ambição. A juíza Carine Labres, por exemplo,
tem muito a aprender com a situação enfrentada pelo jurista. Fachin está às
vésperas da sabatina no Senado, quando suas competências serão avaliadas, entre
outros, por Renan Calheiros e liderados.
Daqui a alguns anos, a destemida
Carine pode, quem sabe, ser lembrada para ocupar um lugar numa das altas cortes
do país. E poderá também se submeter aos questionamentos públicos que tentam
inviabilizar – como nunca antes neste país – a indicação do jurista à vaga
aberta com a aposentadoria precoce do ministro Joaquim Barbosa.
Fachin e Carine têm em comum o
delito de que andam ou andaram em más companhias, de acordo com seus
detratores. Ele sempre teve fortes vínculos com os movimentos sociais e, dizem,
tem simpatia pelo MST. Participou da Comissão da Verdade no Paraná. Defende
posições progressistas. Seria um temível ministro de esquerda – portanto, sem
isenção, segundo os mesmos detratores.
Ela é a juíza que abriu as portas
de uma cerimônia de casamento coletivo de Livramento a casais gays, no ano
passado. Assumiu publicamente que desafiava o machismo e o conservadorismo da
Fronteira. Depois, na parada gay de Porto Alegre, subiu num carro alegórico. Se
estivesse vestida de prenda, ao lado do seu patrão, sentada numa carreta do Desfile
Farroupilha, tudo teria sido normal.
Carine assegurou o direito de
casais homoafetivos a uma cerimônia que formalize e festeje suas uniões. É, de
acordo com o mesmo enquadramento simplificador, progressista e perigosa. Carine
e Fachin têm em comum ainda a acusação de que são ativistas da Justiça.
Deveriam estar sentados em suas mesas, na inércia de quem lê códigos e
interpreta leis de acordo com o que os de sempre entendem que é o senso comum.
Os dois não seriam incômodos se
estivessem ao lado de uma sempre alegada neutralidade. São alvos preferenciais
da turma dos que, com pequenas variações, afrontaram a Comissão da Verdade, que
desrespeitam gays, simulam concessões aos negros, mas refugam o sistema de
cotas na universidade, que veem ameaças (políticas) em imigrantes haitianos e
médicos cubanos e que se constrangem com a ascensão social da chamada classe C.
Carine e Fachin teriam vida mansa
se não contrariassem os de sempre. Fachin, jurista reconhecido
internacionalmente, poderia prosperar defendendo apenas o que seus detratores
consideram o convencional. Ganharia fama e dinheiro e não seria incomodado pela
acusação de que um dia abriu o voto para Dilma Rousseff.
Os dissimulados, que nos vendem a
farsa da neutralidade, incomodam-se com Carine e Fachin. Pela velha convenção
do cinismo brasileiro, o bom mesmo é ter a companhia dos de sempre. O
reacionarismo é implacável com os que o desafiam.
Contra Carine, não há o que
fazer. Contra Fachin, pode pesar mais um episódio da revanche dos seguidores de
Renan Calheiros em guerra com o governo. A Bolívia, o Paraguai e outras
Repúblicas, das quais tantos debocharam por séculos como expressões do atraso
latino-americano, podem agora rir à vontade da barulheira que vem sendo
promovida pelo atraso brasileiro.
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