19
de maio de 2015 | N° 18167
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
A POLÔNIA
TRISTE
Por
estar vivendo este ano em Paris, tenho podido viajar para muitos destinos
europeus, em saídas de poucos dias. Foi o caso de uma ida à inesperada Polônia.
Nunca
tinha pensando em visitar aquele país. Mas uma excelente figura, a professora
Natalia Klidzio, gaúcha das Missões, fez contato comigo, convidando-me para dar
umas aulas na universidade dela, em Lublin. Ela dá aulas de Português por lá –
é a única brasileira e a única a lidar com literatura brasileira.
Aliás,
motivo de vergonha para nós: nas grandes cidades europeias, a presença
universitária da língua portuguesa se deve quase exclusivamente a Portugal, ao
Instituto Camões. O Brasil nunca conseguiu botar de pé o Instituto Machado de
Assis, para divulgação da cultura literária brasileira. Falta de articulação na
alta burocracia se mistura à ausência de uma visão da importância externa do
Brasil por parte de quase todos nós.
E lá
fomos nós, para uns dias num país sensacional de conhecer. O Tiago Halewicz, do
StudioClio, já me tinha passado contatos e dicas, que me levaram a dar aula
também em Varsóvia (pela mão da colega Magda Walczuk), também para dezenas de
alunos de Português. Mas nada se compara a ver ao vivo um país forte como a
Polônia. Forte e discreto.
Os
polacos, que são muitos no Rio Grande do Sul, têm muita coisa a mostrar. Por
falta de espaço, nem vou falar dos lindos museus e das cidades agradáveis, bem
cuidadas, floridas (onde se passa bem em inglês). Fico apenas num aspecto, de
profundidade abissal: tive a nítida sensação de que, passado o horror nazista,
que subjugou a Polônia, e a experiência comunista, que não deixou lembranças
muito boas, a Polônia vive numa tristeza pesada, difusa mas sensível nos
depoimentos que ouvi.
Fui
visitar o campo de extermínio de Majdanek, em Lublin. Nem precisaria mais do
que isso para sentir o que um polaco democrata sente: os alemães nazistas
fizeram da Polônia seu pátio de horrores, obrigando os nativos a funcionarem
como algozes, de si mesmos e dos inimigos principais do nazismo, os judeus. É
uma ferida histórica diversa da que sentem os alemães democratas, mais
enviesada ainda, a dos poloneses.
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