quinta-feira, 28 de maio de 2015


28 de maio de 2015 | N° 18176
L. F. VERISSIMO

Quinta divisão

Há dias, escrevi aqui que o Paris Saint-Germain era o Racing de Paris com outro nome. Ledo e ivo engano. O leitor Chico Izidro me corrigiu: o Paris Saint-Germain nasceu em 1990 da fusão do Paris de Football Club e do Stade Saint-Germain. Quanto ao Racing, faliu, voltou cambaleante e hoje está na quinta divisão francesa. Talvez eu já soubesse isso e tivesse apagado da memória por razões sentimentais. Racing era o nome do meu time de futebol de calçada, quando garoto.

O time não tinha uniforme, não tinha escudo, não tinha nada, mas tinha o nome forte. Só não me lembro se o homenageado era o Racing de Paris ou o Racing de Buenos Aires. De qualquer maneira, não envergonhamos o nome. Por pior que fôssemos, jamais cairíamos para uma quinta divisão.

Um país da quinta divisão da União Europeia, a Grécia, está assustando os da primeira divisão com sua rebeldia. A Grécia é o primeiro país em que a reação à receita de sacrificar a maioria para resolver a crise tomou forma política. Foi eleito um partido de esquerda disposto a não seguir o caminho da austeridade, e sua atitude malcriada está assustando todo o mundo.

A reação ganhou uma cara e um estilo na figura do ministro da Fazenda escolhido pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras, Yanis Varoufakis, que tem percorrido a Europa falando com os chefes da economia com o que o International New York Times chamou de uma “voz desafiadora” e não deixando ninguém menos nervoso com o que diz.

Varoufakis tem pinta de rock star, usa casacos de couro e anda de motocicleta, e o que tem dito para os seus pares europeus é que a crise tem um componente moral que não pode ser omitido do debate econômico. Não é moral que uma geração inteira seja martirizada para debelar uma crise da qual ela não é culpada. Seus críticos dizem que a União Europeia não é lugar para pruridos morais e que o importante é seguir as regras para que o mercado comum sobreviva e que, no caso de uma debacle do mercado, a maior prejudicada seria a própria Grécia.


Varoufakis contra a “troika” – a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI, que pregam a austeridade doa a quem doer – pode ser comparado a um Racing x Paris Saint-Germain. Mas quem garante que um time da quinta divisão, ou até o meu Racing de calçada, não possa um dia derrubar um PSG do seu pedestal? Só não faça apostas.

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