Apelo às mães
Que seja uma data comercial. Que todos os dias sejam dias seus. Mas é que dá uma agonia de ver o trágico se tornando tão banal, a violência se achando a dona das manchetes, o ódio querendo dar as cartas do hoje e do amanhã, que preciso aproveitar este domingo. O domingo das mães. E fazer um apelo. É que as mães têm um poder incomparável. As mães da Praça de Maio desconcertaram a ditadura argentina, as mães do Cube da Zona Sul paulista constrangeram a ditadura brasileira.
A holandesa Fanny Blankers-Keon era mãe de duas crianças quando, aos 30 anos, venceu todos os homens que com ela competiam, e faturou quatro medalhas de ouro no atletismo da Olimpíada de 1948. E há milhares, milhões, bilhões de mães tão heroínas quantos estas, tão anônimas quanto todos nós. Mães que são dos seus, que são mães de todos. Marias em ventre e poesia. As mães podem, sim. E só elas podem.
Lembro como o afeto de minha mãe mudava minha vida num instante, quando criança. Ou maias tarde, na bagunça interna da juventude, ou mesmo agora, na pretensa maturidade que se tenta absoluta, mas volta e meia aceita, e muito feliz, um afago seu. Uma palavra macia, um beijo, qualquer conforto. O mundo desaba em cama macia, com gosto de ninho, e se reconstrói. É o que peço às mães, hoje. Além de todas as honrarias e lembranças que elas merecem, e lhes daremos, cada um lá do seu jeito. Peço que nos ajudem, a todos nós, fazendo algo que ninguém mais sabe fazer. Ser mãe.
E que as mães dos que se desviaram do caminho, seduzidos pela violência, o lucro fácil e inescrupuloso ou qualquer vício nocivo, chamem seus filhos. Abracem, perdoem, chorem com eles. E lhes peçam para voltar. Que lhes peçam para recomeçar. Jamais haverá clínica, cadeia, polícia ou campanha pública que seja capaz de tocar fundo no coração de alguém, não do modo que uma mãe poderá tocar. Só elas podem ressocializar alguém de verdade.
E que as mães dos professores, dos policiais, dos anjos da saúde e tantos outros guerreiros cotidianos confortem os seus filhos cansados desta luta inglória. E lhes peçam, por elas, mães, para que todos eles sejam sempre agentes do bem, por mais que tudo pareça ingrato lá fora, mesmo que tudo soe perdido. O mundo externo começa a mudar quando o nosso universo interior se dispõe a isto.
E às mães que perderam seus filhos, que abracem os filhos do mundo, os que têm e não têm mães, como se fossem seus. Que ensinem as mães acidentais a serem mães de verdade. E assim todas as mães, de quem quer que seja, onde for. Que tudo, neste domingo, seja abraço que não descola, seja colo e carinho. Sem brigas, sem guerras, sem penas. Apenas amor. O amor que só as mães sabem ter.
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