13
de maio de 2015 | N° 18161
DAVID
COIMBRA
Pelo
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“Oi,
David. Acho que vc não se lembra de mim. Estudei com vc no Piratini no 1° ano
do 2° grau. Turma 115, uma turma cheia de bagunceiros. Eu vivia dormindo em
aula, porque trabalhava à noite.”
“Mas
é claro que lembro! Vc dormia mesmo. Roncava!”
“Menos
nas aulas de história. Eu gostava da professora Gilda.”
“Eu
também. E da Maria Antonieta, que me ensinou muito de português. Uma vez eu fiz
a redação pro Ivan, aquele chileno, e o Edson, que era de Gramado. Ela leu e
disse em aula: ‘Um aluno escreveu a redação pra outros dois. Eu conheço o
estilo dele’. Ficamos apavorados. Quando ela entregou as provas, deu zero pra
eles e 10 pra mim. Outro dia, encontrei o Ivan e ele lembrou disso. Ele toca
num daqueles grupos folclóricos chilenos, sabe? Carnavalito e tal.”
“Não
lembro dele. Lembro da Íria, de matemática, que era muito braba. E da Paula, de
química.”
“Ah,
a Paula... Tinha olhos azuis.”
“E
usava calça branca.”
“Ah,
a calça branca da Paula...”
“Nossa
turma ganhou o campeonato daquele ano. O time tinha eu, vc, o Paulo Gordo, o
Bagé...”
“Timaço!
Jogava também o italiano, o Rabollini. Era bom de bola, aquele italiano.”
“Não.
O Rabollini jogou no 2° ano. Ele era craque. E só tirava 10. E as gurias gostavam
dele. Era bom em tudo, o Rabollini.”
“Era.
Achei que o Rabollini ia ser presidente do Brasil. Hoje ele é proctologista,
parece.”
“Proctologista?”
“É.”
“Que
coisa. Como é a vida. Aquela nossa turma tinha todas aquelas meninas bonitas. A
Neneca...”
“Neneca?”
“Uma
loirinha. Baixinha. Toda direitinha. Toda empinadinha.”
“Eu
gostava da Janice. Magra. Perna comprida. Cabelo crespo. Sempre séria. Um dia
eu estava conversando com o João Raul na escadaria do pátio e ela veio falar
com ele e subiu os degraus e parou a um palmo de mim. Um palmo! Não olhava pra
mim, só olhava pra ele e falava com ele, mas eu sentia o cheiro de hortelã do
hálito dela e o cheiro de chocolate branco da pele dela. Cristo! Ela acabou
comigo naquele dia.”
“Janice.
Era bonita. Mas ninguém ganhava da Silvia Capaverde. Eu era apaixonado por
ela.”
“Era
a mais bonita do colégio. Fui ao aniversário de 15 anos dela, na Casa de
Portugal. Lembro que um cara mais velho dizia que namorava ela. Começou a tocar
uma música do Peter Frampton. Uh, baby, I love your way, e o cara, olhando ela
de longe, me disse: ‘Essa é a nossa música: minha e da Silvia. É só nossa. Sei
que ela tá pensando em mim agora’. Foi ele dizer isso e a Silvia levantou e foi
dançar com outro cara. Ele tomou um porre naquela noite, coitado. Não foi vc
quem dançou com ela, foi?”
“Infelizmente,
não. A Silvia era demais. Linda e simpática. Estava sempre rindo. Tratava todo
mundo bem. Que tal fazermos uma festa da turma? Vc vai? Queria ver a Silvia de
novo.”
“Ela
morreu, não sabia?”
“Não!
Morreu??? A Silvia??? De quê???”
“Não
sei. Só sei que morreu.”
“Mas
não pode. Não pode. Eu era apaixonado por ela.”
“É.
Não podia mesmo. Pra mim, ela era a vida que se deve ter aos 15 anos de idade.”
“A
Silvia. Eu era apaixonado por ela. Como fazer a festa sem a Silvia? Como é a
vida.”
“Pois
é. Bom. Vou ter que sair. Tchau.”
“Como
é a vida.”
“É.
Como é a vida.”
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