19
de maio de 2015 | N° 18167
DAVID
COIMBRA
A economia é a base da
porcaria
O
velho sapateiro Walter, meu avô, era um sábio. Você talvez argumente que todo
mundo acha que seu vô é um sábio. E é verdade. Todo mundo acha. Só que meu avô
era mesmo um sábio. Dizia algumas frases simples na aparência, mas profundas no
conteúdo.
Por
exemplo: “Tudo que é demais, derrama”.
Perfeito.
Qualquer coisa em excesso faz mal. Até a Megan Fox. Até leite condensado.
Outra:
“A economia é a base da porcaria”.
Essa,
sei, é mais polêmica. As pessoas acreditam muito que economizar é algo
intrinsecamente bom. Até pode ser bom, mas não intrinsecamente. É preciso saber
a diferença entre gasto e investimento e compreender que o dinheiro só terá
sentido se for usado. Ou seja: se for gasto.
Romildo
e Sartori estão fazendo economia pouco inteligente, cada qual em sua esfera.
Seus antecessores no Grêmio e no governo não foram bons administradores, certo.
Legaram-lhes um clube e um Estado falidos, igualmente certo. Assim como é certo
que Romildo e Sartori têm, de fato, de fazer economia.
Mas
não da forma como estão fazendo.
O
Grêmio, se não contratar bem e rápido e caro, irá para a segunda divisão. Aí,
sim, o prejuízo será irreparável.
O
Rio Grande, se continuar economizando em segurança pública, se tornará o Estado
mais inseguro do Brasil, cidadãos vão morrer, vão se tornar alvos fáceis de
violência, a população ficará traumatizada, e isso também não tem reparo.
Sartori
e Romildo estão sendo cautelosos, bem sei. Mas a cautela em demasia pode ser
pior do que a temeridade. Lembre-se: tudo que é demais, derrama.
Não
há nada mais importante do que segurança
Tenho
convicção de que o maior problema do Brasil, hoje, é a segurança pública. O
conjunto formado por leis lenientes, polícia desvalorizada e presídios
desumanos produz males tão profundos e tão corrosivos, que prejudicam quase
todos os outros estamentos da sociedade.
Um
exemplo comezinho: como os brasileiros sentem medo de caminhar nas ruas,
veem-se obrigados a usar mais os carros particulares do que o transporte
público. Como usam mais os carros particulares, o trânsito fica pior e as
cidades ficam mais poluídas. Com o trânsito pior e as cidades mais poluídas, as
pessoas ficam mais nervosas e agressivas. Com pessoas mais nervosas e
agressivas, a violência urbana aumenta.
É um
mal que se retroalimenta.
Assim
em várias outras instâncias.
A
violência também obriga o cidadão a gastar mais. Antes, havia um carro por
família. Hoje, há famílias que têm quatro, cinco carros, não por luxo: porque
precisam. Porque sair à rua a pé é um risco.
Essas
pessoas, quando se deslocam de um lado para outro, não podem deixar o carro no
meio-fio, é preciso pagar um estacionamento, ou aceitar o achaque de um
flanelinha. Mais gastos.
Os
edifícios necessitam de portaria e sistema de segurança. Os estabelecimentos
comerciais necessitam de vigilância particular.
Qual
é o custo disso?
Feche
tudo, Sartori, corte tudo, mas não tire um único policial da rua, não racione a
gasolina das viaturas, não diminua o horário das delegacias.
Segurança
pública é item de primeira necessidade. É caso de sobrevivência. Não se
economiza em sobrevivência.
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