segunda-feira, 18 de maio de 2015


18 de maio de 2015 | N° 18166
DAVID COIMBRA

Tarso e Sartori, o bonito e os feios

Tarso tem criticado Sartori nas redes sociais. Isso é novo. Sem ser perguntado, sem que um repórter ou qualquer outro curioso o tenha instado, o último governador faz restrições públicas aos atos daquele que o sucedeu. Coisas do mundo virtual.

Tarso governou durante quatro anos. Ao fim desse período, entregou a Sartori um Estado quebrado, como ele, Tarso, havia recebido de Yeda, como ela, Yeda, havia recebido de Rigotto, como ele, Rigotto, havia recebido de Olívio, e assim sucessivamente. Retroativamente.

Todos esses ex-governadores têm direito de reclamar do governo, como cidadãos que são, mas resta algo incômodo no ar quando eventualmente fazem críticas como Tarso tem feito. Afinal, eles tiveram chance de resolver o problema, e não conseguiram.

Por quê?

Qual foi o último governador que entregou o Estado em boas condições a seu sucessor?

Conheci e entrevistei todos os que foram eleitos pelo voto direto a partir da redemocratização, em 1982. Passei dias falando com Jair Soares em seu escritório na Rua da Praia. Lembro-me de ele ter dito:

– Quando nasci, minha mãe viu uma luz.

Aquilo me causou forte impressão.

Depois, Jair contou ter usado da aparência pessoal para vencer Simon, Collares e Olívio em 1982. Foi a Paris, onde lhe indicaram um perfume que combinava com seu suor e um creme que lhe fazia parecer eterna e ternamente bronzeado.

– Eu era mais bonito do que eles – disse.

Escrevi uma longa matéria a respeito, que nunca foi publicada pelo jornal em que trabalhava na época.

Mais tarde, os feios se elegeram. Collares foi o mais divertido. Ele cantava e chorava nas entrevistas – trata-se de um emotivo. Collares sempre recorda com orgulho seu primeiro slogan, criado por ele próprio para a eleição à vereança de Bagé: “Ô, meu: vota no Alceu!”

De Olívio, lembro de uma vez ter viajado de ônibus com ele de seu prédio na Assis Brasil até o Centro. No fim da linha, na Praça XV, ele caminhava pela rua muito sério debaixo de seu bigode, e o fotógrafo pediu que sorrisse para a foto.

– Mas não estou com vontade de sorrir – respondeu. E não sorriu.

Pedro Simon era enigmático. Um dia ele me disse que, em 1982, Brizola havia ligado para avisar que a eleição seria fraudada. Terá sido? Ou será que venceu, de fato, o mais belo por ser mais belo? Ninguém jamais descobrirá.

Já Antônio Britto era o que se chama de workaholic. Ligava para os assessores às 2, 3, 4h da manhã, para falar de trabalho, fazer cobranças, traçar planos. Dormir era luxo, para um assessor do Britto.

Sartori, conheço-o desde que era um deputado manhoso na Assembleia, em 1990. Vejo defeitos em seu projeto de governo. O principal deles é não definir claramente suas prioridades. Imagine, ele disse ter cem metas. Quem olha para cem alvos provavelmente não acertará em nenhum. Ainda assim, sei que Sartori está se esforçando o mais que pode e tem certas características em comum com os outros que governaram antes dele, de Tarso para trás, até chegar a Jair: a integridade e a honesta intenção de fazer o bem ao Rio Grande do Sul.

Por que, então, sei, e você também sabe, que ele não conseguirá, como outros não conseguiram? Por que sei, e você também sabe, que os sacrifícios dos próximos anos serão em vão, como antes foram?


Porque o problema não é o Rio Grande do Sul. O problema é o Brasil. A estrutura administrativa do Brasil. Nenhum governador será bom enquanto houver reis em Brasília.

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