09 de maio de 2015 | N°
18157
NÍLSON SOUZA
MÃE NÃO É UMA SÓ
De todos os mitos que cercam o
Dia das Mães, esse negado pelo título acima é o que menos se sustenta, embora
continue ilustrando anúncios relativos à data. Cada vez que leio a expressão,
me lembro de uma amiga que mandou a filha para o Exterior, para fazer um
intercâmbio estudantil, e começou a ficar inquieta com os elogios que a
viajante fazia à dona da casa onde estava hospedada. Minha amiga passou, então,
a incluir nas mensagens que mandava à filha um fecho emblemático antes da
assinatura:
– Da sua única mãe!
Ora, do ponto de vista biológico
e desconsiderando os avanços científicos, tudo bem. Mas no aspecto afetivo, que
é o que interessa, as mães são muitas. Minha dentista, que foi criada por uma
prima da própria progenitora, referia-se a ela como “minha outra mãe”. E, pelo
que contava aos pacientes de boca aberta, sempre recebeu da mãe adotiva um
tratamento carinhoso de verdadeira filha. Não é caso isolado. São incontáveis
as mães do coração, que abraçam e abrigam filhos alheios como se fossem os próprios.
Mãe é mãe, seja ela legítima,
emprestada, temporária, exclusiva ou compartilhada.
A minha – de sangue e de coração
– está com 91 anos e cuida da irmã de 96 como se fosse uma filha, ambas
felizmente saudáveis e ativas. Aos sábados, quando as visito, são duas mães
para mim nas suas preocupações, gentilezas e orações, além dos quitutes que
fazem para receber filhos, filhas, netos, bisnetos e agregados.
Todas as mulheres são mães, tendo
ou não gerado seus próprios filhos. Há tias-mães, madrinhas-mães, vizinhas-mães,
professoras-mães, avós-mães e até homens-mães, no melhor sentido, de amor,
compartilhamento e substituição.
Mãe é um plural sem s no final.
Mãe é um substantivo coletivo.
Mãe é um adjetivo superlativo.
Mãe pode ser também muitos verbos
transitivos – amar, adorar, abraçar, abençoar, proteger...
Mãe é uma gramática completa, a
palavra certa no lugar certo, sempre amorosa, carinhosa, acolhedora.
Mãe é uma multidão de afetos.
Decididamente, mãe não é uma só.
Nós, filhos e filhas, é que nos sentimos
únicos diante delas.
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