Alguém mais na casa do brejo
REPRODUÇÃO/JC
A mulher de preto 2 - Anjo da Morte (Editora Record,
304 páginas, tradução de Rodrigo Abreu), do dramaturgo, roteirista de televisão
e escritor inglês Martyn Waytes, nascido em Newcastle, é a sequência de A
mulher de preto. No texto publicado após o romance, o autor explica por que
aceitou o desafio de escrever a continuação e o que o influenciou.
O
romance inspirou a sequência do filme A mulher de preto e se passa no outono de
1940, em meio aos bombardeios alemães que arrasam as cidades da Grã-Bretanha.
Em Londres, as crianças são afastadas de suas famílias e levadas para o campo
em busca de segurança. A professora Eve Parkins é responsável por um grupo e
seu destino é uma casa vazia e desolada, que parece afundar no traiçoeiro e
misterioso pântano à sua volta. É a Casa do Brejo da Enguia. A casa está sempre
envolta em espessa bruma e foi reformada para servir de escola e abrigo.
Os
desafortunados morrem em meio a escombros e explosões em uma Londres arruinada.
Os sobreviventes buscam proteção nas estações de metrô, e as crianças são
enviadas para a zona rural, exatamente como as que foram levadas pela
professora Eve. Longe da cidade e sem alternativas, Eve Parkins e as crianças
se alojam no local. Logo, fica evidente que há mais alguém por ali, alguém
muito mais perigoso que qualquer ataque alemão. Um mofo preto que parece se
esgueirar pelas paredes, seus pesadelos angustiantes e um ruído aterrador vindo
do porão à noite deixam a professora inquieta.
Edward,
uma das crianças do grupo, tem um passado trágico. Após testemunhar a morte da
mãe em um ataque aéreo, episódio brutal narrado no primeiro capítulo do livro,
o menino se retrai completamente. Afastado, busca apoio em um fantoche que
encontra na casa. O boneco parece ser um instrumento para o menino conversar
com alguém. Logo, logo, os novos residentes da Casa do Brejo da Enguia percebem
que há mais uma pessoa entre eles e que ela parece ter planos para os
visitantes. Ela nunca perdoa, ela nunca esquece, ela jamais abandona. Ela, a
mulher de preto 2, o anjo da morte.
A
narrativa de Martyn Waites é, como convém, seca, cirúrgica, cortante, vai
direto ao ponto e é econômica em adjetivos, como costumam ser os textos dos
bons romances da modernidade. O ritmo é rápido, e as ações vão se sucedendo em
capítulos curtos, evitando, cuidadosamente, o excesso de detalhes ou de
personagens. A obra trabalha bem o medo e o terror. A narrativa consegue
estabelecer um clima de estranheza, de mistério e maldade. Estabelecer um clima
é sempre uma grande qualidade para um romance. O autor declara, num texto que
está publicado depois do final do romance, que cresceu lendo histórias em
quadrinhos e que era um nerd antes de ser legal ser um nerd. Dá bem para notar.
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