20
de maio de 2015 | N° 18168
FÁBIO
PRIKLADNICKI
PAIS E FILHOS
Talvez
você – assim como eu – nunca tenha ido ao Crato, cidade do Ceará que fica na
divisa com Pernambuco. Mas de lá veio uma peça sensível e delicada que foi uma
das boas surpresas do 10º Festival Palco Giratório Sesc/POA, que ocorre até o
dia 31 em Porto Alegre. Produção do grupo Ninho de Teatro, Avental Todo Sujo de
Ovo trata de um casal que – cuidado com o spoiler! – recebe o filho em casa
depois de uma ausência de cerca de 20 anos. Só que agora ele é um travesti que
ganha a vida dublando Clara Nunes, e aí entra o conflito com os pais.
O
tema, que viraria deboche em mãos quaisquer, é traduzido em um drama intimista
de rara maturidade. Mas o desfecho não é muito reconfortante para o filho,
agora filha. Há um tema universal aqui: como lidar com a expectativa dos pais
quando ela não se coaduna com a vontade dos filhos?
A
questão já havia aparecido no Palco Giratório no trabalho do ator Thiago Amaral
na série Ficção, da ótima Cia. Hiato (SP). Na vida real, o pai de Thiago havia
ficado seis anos sem falar com ele por causa da sexualidade do filho.
Entre a
ficção e a realidade, a peça trata disso, valendo-se da metáfora de um coelho
que não pode procriar. Ecoa, em cena, a declaração do pai segundo a qual ele não
seria seu “projeto de filho”. O fato curioso é que o pai, que não é ator, foi
convidado para contracenar com ele – e aceitou. Por causa do teatro, voltaram a
se relacionar.
Esses
grandes espetáculos certamente nos dão alguma força para ler o triste resultado
da pesquisa do Instituto de Psicologia da UFRGS, noticiada em Zero Hora, que
mostra que 87% dos alunos da universidade têm algum preconceito contra a
diversidade sexual. Prova de que, infelizmente, os ofensores não formam apenas
uma minoria barulhenta, mas o futuro da nação.
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