22
de maio de 2015 | N° 18170
MOISÉS
MENDES
A Seleção
acabou
Sem
Neymar, a Seleção seria para o Brasil pouco mais importante do que o time de
beisebol. A Seleção acabou, é uma instituição falida. É a hora do surfe.
Dirão
que o surfe é esporte de quem mora perto do mar. Talvez seja. Mas quem mora
perto de um campo ou de uma quadra de futebol hoje (não vale a quadra precária
do colégio)? Quem, nas vilas, dispõe de uma quadra em condições de uso? Os
campinhos de futebol não existem mais, e as quadras, algumas de asfalto, caem
aos pedaços.
Quem
vai aos estádios? Você vai? Alguém da família vai? Por que os estádios, com
exceção de um Gre-Nal, estão tristemente vazios?
Sem
Neymar, a Seleção seria tão importante quanto o time da peteca. Ainda mais
agora, que o país ficou sabendo da maracutaia, firmada em contrato, da CBF com
grupos estrangeiros que patrocinam o futebol. Dois grupos mandam na escalação
da Seleção.
Uma
escalação somente será validada se, 15 dias antes, for encaminhada às empresas
que organizam os amistosos da CBF. O Brasil vendeu a Seleção a especuladores.
Talvez assim se entenda por que um cara que joga na Ucrânia, de quem você só
ouviu falar por causa da guerra da Crimeia, é convocado pela Seleção.
Está
tudo denunciado em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. Por dinheiro,
escala-se quem as empresas acham que deva ser escalado.
O
Estadão deveria investigar mais. Não para que aconteça alguma coisa, porque não
vai acontecer nada. Mas para que se fique sabendo como se dá a promiscuidade
entre clubes e empresários. Como as empreiteiras se adonaram dos estádios. Como
pernas de pau andam de um time para outro, sem que se saiba direito o que fazem
ali. Como os mesmos técnicos, sempre os mesmos, repetitivos, gastos, medíocres,
ganham fortunas.
Merecemos
saber mais da Seleção, que já não merece a precária relação de afeto que ainda
mantém com o povo. A Seleção nos engana, desde muito antes do 7 a 1 contra a Alemanha.
Chega
de Seleção. Ganhamos cinco Copas, está bom assim. A Seleção é a expressão de um
civismo do século 20. Vamos nos agarrar a outros personagens que possam se
encarregar de suprir as nossas identidades. Mais Rafael Medina, mais
Mineirinho, mais Filipinho.
Deixem
Neymar brilhar no Barcelona. E quem quiser, no desespero, que se agarre a
enganos de outras áreas, como o Anderson Silva.
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