sexta-feira, 22 de maio de 2015

Jaime Cimenti

Os livros e eu

Desde o século passado, na querida Bento Gonçalves, no Grupo Escolar Angelo Roman Ros, com a professora Adyles Ros de Souza, a paixão pela escrita e pelos livros me pegou. Faz mais de 50 anos e, pelo visto, a coisa vai longe - quem sabe outros 30 ou 40 anos, se o alemão não me pegar ou se não for chamado para o andar de cima. Isola.

Lá por 1975, estudava Direito na Ufrgs e escrevia notas de livros para o vibrante jornal Minuano, do Diretório Estadual de Estudantes, editado pelo jovem acadêmico de Direito e Jornalismo Fernando Di Primio, que se tornou um ícone do jornalismo brasileiro, especialmente publicações para órgãos de classe e empresas. Com ele e José Luiz Prévidi, por exemplo, cobrimos o Festival de Gramado no tempo em que a Sônia Braga era tri guria, a Gabriela, fazendo furor na beira da piscina do Serra Azul.

Numa tarde de 1975, bati numa casa na rua 24 de Outubro. Abriu a porta o jovem, elegante e simpático Ivan Pinheiro Machado, editor da iniciante L&PM. Disse que era colunista do Minuano, que precisava de livros. Ele gentilmente me disse para sentar numa poltrona, foi até uma estante e voltou com uns 10 ou 12 livros na mão, me entregou e disse: Jaime, aqui estão todos nossos títulos editados, pode levar.

Agradeci. Rango, do Edgar Vasquez, estava ali, junto com os dois volumes da Enciclopédia Brasileira do Humor e outros. Como todo mundo sabe, Rango foi o primeiro livro editado pela L&PM, com prefácio do Erico Verissimo. Já no início, era visível a qualidade das capas e os cuidados da editora, que completa 40 anos, para alegria de todos nós, gaúchos e brasileiros.

Na minha primeira coluna no Minuano, citei acho que O popular, do Luis Fernando Verissimo, que o seu Maurício Rosenblatt, da Editora José Olympio, tinha me passado. Alguém me disse que não era para eu ter falado no livro, porque o Luis Fernando era meio comunista...

Carlos Jorge Appel, Paulo Ledur, Luis Gomes, Antonio Suliani, Frei Rovilio Costa, Rodrigo Rosp, Roque Jacoby e muitos outros editores e distribuidores prestigiaram e têm prestigiado a coluna, durante estas décadas.

Depois de algum tempo, lembro-me de que passei a escrever notas de livros para o Jornal do Comércio, onde me relacionava com um jovem jornalista chamado João Egydio Gamboa, sempre muito gentil e paciente comigo. Não vou conseguir lembrar de todos os jornais onde falei de livros. Kronika e Usina do Porto menciono agora.

Desde fins de 1995, há mais de 20 anos, assino esta página. Desde o Minuano até aqui, são mais de 40 anos de jornal com livro. Não dá para saber muito sobre o futuro do livro e do jornal impressos, mas me sinto feliz por ter colocado, modestamente, alguns pequenos tijolinhos nesta obra universal e interminável que é o mundo editorial do planeta. Sou um dos Quixotes e Sanchos do mundo do livro. Sigo fazendo minha pequena parte. Bill Gates pede para seus filhos lerem livros impressos. Se ele fala isso...

A propósito...

Logo devo assumir a direção do Instituto Estadual do Livro. Dentro da atual conjuntura, é um belo desafio. Conto com a ajuda de todos os rio-grandenses, que tanto admiram o I?EL e tanto orgulho têm de sua trajetória e de suas realizações. Penso que a leitura silenciosa de um livro impresso ainda é - e sempre será - uma experiência única, incomparável. Toca a inteligência e a sensibilidade das pessoas de um modo absolutamente diferente e sei que muitos pensam assim. Isso não é pouco num mundo e numa época de sons e imagens poderosos. De mais a mais, o mundo do livro e da literatura segue território da liberdade, da criação e das leituras sem limites.


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