12
de maio de 2015 | N° 18160
OLHAR
GLOBAL | Luiz Antônio Araujo
Em vez de Gerônimo, Bin Laden era
Montezuma
Os
responsáveis pela morte do traficante Teréu num refeitório da Penitenciária de
Alta Segurança de Charqueadas correram mais riscos do que os matadores de Osama
bin Laden. Segundo reportagem do veterano jornalista americano Seymour Hersh, o
fundador da Al-Qaeda era, na prática, um prisioneiro do serviço de inteligência
das forças armadas paquistanesas ao ser morto por uma equipe de forças
especiais dos Estados Unidos em 1º de maio de 2011.
Tudo
isso só pode ser explicado pela cumplicidade do Paquistão com a operação.
Conforme Hersh, o paradeiro de Bin Laden não foi desvendado por meio de uma
ampla e detida investigação. Foi uma fonte ligada às autoridades locais que
revelou sua localização ao chefe da CIA em Islamabad. O único trabalho da
inteligência americana foi investigar a veracidade de informação.
Em seguida,
foi preciso convencer os generais paquistaneses a colaborar – ou seja, um tipo
de operação a que os dois lados estão mais do que acostumados. “Gerônimo”, como
Bin Laden foi alcunhado na operação, em referência ao mitológico chefe apache,
na verdade estava mais para Montezuma, o imperador asteca que virou refém de
Hernán Cortez.
No
dia seguinte à morte de Bin Laden, escrevi em Zero Hora: “Nos próximos anos,
conheceremos detalhes da operação que eliminou Bin Laden pela boca de
vencedores e perdedores. Os homens que o emboscaram escreverão memórias que
darão origem a filmes. Barack Obama usará sua morte como mote de campanha –
ironicamente, sua maior realização em política externa terá sido executar com
sucesso uma ordem de Bush filho. Já os simpatizantes de Osama lhe darão as
honras de shahid, mártir que dá a vida pelo Islã.
Como
o 11 de Setembro, porém, o 1º de Maio de 2011 deixará muitas perguntas no ar.
Como Bin Laden conseguiu escapar durante 10 anos da caçada que lhe fazia a
nação mais poderosa do mundo? Como pôde permanecer no Paquistão, país aliado
dos EUA na dita ‘guerra ao terror’? Quais eram seus contatos com familiares,
amigos e colaboradores em sua pátria, a Arábia Saudita?”.
Graças
a Seymour Hersh, quatro anos depois, começamos a saber.
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