29
de maio de 2015 | N° 18177
UM
PROFESSOR INESQUECÍVEL
O Camisa, o punk e Porto
Alegre
DIRETO
DA BAHIA, Marcelo Nova e sua turma introduziram o punk rock para muitos
porto-alegrenses nos anos 1980
Em
meados dos anos 1970, não havia internet, nem TV por assinatura, nem locadoras
de fitas VHS. As poucas lojas de discos importados só ofereciam música erudita
e rock progressivo. Nas festas, dançava-se como John Travolta. Nos lugares mais
escuros e alternativos, Beatles e Rolling Stones ainda reinavam, absolutos. As
rádios quase não tocavam rock. Por tudo isso, é natural que a grande explosão
musical do punk que aconteceu em Londres e Nova York por volta de 1976 não
tenha sido escutada em Porto Alegre.
São
Paulo, mais cosmopolita, ouviu um pouco, tanto que, na sua periferia, jovens do
ABC, em sua maioria filhos de operários, formaram as primeiras bandas. Em 1982,
foi realizado o festival O Começo do Fim do Mundo, reunindo grupos que mais
tarde lançaram discos importantes, como Cólera, Inocentes, Olho Seco e Ratos de
Porão. O barulho desse fim de mundo, porém, também não foi ouvido em Porto
Alegre.
Lançado
no Brasil com pouca publicidade, o álbum Never Mind the Bollocks, dos Sex
Pistols, graças à sua capa maravilhosamente desleixada e ao seu som
maravilhosamente sujo, começava a chamar a atenção, mas foi um outro disco, por
incrível que pareça brasileiro, e por incrível que pareça de uma banda baiana,
que introduziu o punk para muitos porto-alegrenses. Em 1983, o Camisa de Vênus
lançou o seu primeiro LP, e muitas das suas canções eram maravilhosamente
punks. Eles tinham o som, as letras e a atitude de bandas inglesas e
norte-americanas que ainda não eram conhecidas no Brasil, mas eram bem
conhecidas de Marcelo Nova.
Para
mim, o início do punk foi Pistols e Camisa. E daí para a frente foi um
turbilhão sonoro, que todo mundo ouviu. Quando Os Replicantes começaram seus
ensaios, em dezembro de 1983, já procurávamos avidamente os discos (ou fitas)
de The Clash, Ramones, Dead Kennedyz, Buzzcocks (de quem o Camisa fez algumas
versões) e muitos outros. Mas continuávamos ouvindo Camisa de Vênus.
Em
1985, conhecemos a banda, em especial o Marcelo e o Robério Santana, que
namorou uma gaúcha e morou aqui por algum tempo. Pessoas bacanas, muito bem
informadas e que tinham prazer em dividir o palco conosco. O Camisa fez shows
antológicos no Araújo Vianna e no Gigantinho e de vez em quando volta pra cá, porque
seu público porto-alegrense é fiel. Claro, eles nos ensinaram, na prática, o
que era punk rock. Um professor como esse a gente não esquece.
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