quinta-feira, 6 de novembro de 2008



O PREÇO DA EDUCAÇÃO

A leitora Teresinha M. Savian me mandou em e-mail cuja transcrição, em meio à Feira do Livro de Porto Alegre, parece-me obrigatória. Questão de cultura. Parece um texto de Ionesco sobre o absurdo morno do cotidiano. Se um autor de ficção quisesse ser tão verossímil sobre o assunto abordado, algo que sempre se busca em literatura, dificilmente conseguiria.

Há um requinte ao mesmo tempo folhetinesco e discreto nesta história em que uma pessoa, por más razões e em seu prejuízo, ocupa a própria vaga que deveria preencher por boas razões e em seu benefício.

É extremamente pedagógico sobre as disfunções do Estado na educação. Não fosse tristemente verdadeiro, seria o melhor miniconto realista que eu li em 2008. Não há, porém, ironia. Somente um realismo cru e frontal. Salvar a educação é menos urgente que salvar bancos. Obviamente.

'Prezado jornalista: quando li sua coluna no Correio do Povo do último dia 23 de outubro, sobre o professor de História Rodrigo de Azevedo Weimer, contratado pelo Estado do Rio Grande do Sul para dar aulas, associei a história desse colega à minha, pois são muito semelhantes.

Sou professora nomeada 20 horas pelo Estado há oito anos. No último concurso para professor em 2005, realizei-o com a finalidade de ser nomeada para mais 20 horas, pois tenho habilitação, disponibilidade e muita vontade de trabalhar.

Fui classificada em primeiro lugar na lista de professores para a disciplina de História da minha região. Fiquei muito feliz e, se me dissessem naquele ano que eu jamais seria nomeada, eu não acreditaria, pois na CRE da minha região faltava profissional nomeado nesta área.

Porém, passaram-se os dois anos e o prazo de validade do concurso terminou em setembro do ano passado, e não fui nomeada. Antes do prazo de validade do concurso terminar, fui várias vezes à Coordenadoria pedir pela minha nomeação, já que eu estava, e ainda estou, ocupando minha própria vaga dando aulas de História.

O melhor, ou o pior, vem agora: 'As explicações que me davam eram sempre as mesmas: ‘A SEC só irá nomear se houver muita necessidade, pois estamos em contenção de despesas’.

A última vez que fui à Coordenadoria, senti-me a pior de todas as criaturas do mundo, pois ouvi da própria coordenadora que ‘a SEC não tem interesse em nomear professores, pois um nomeado significa 70 anos de gasto para o Estado’.

Se o governo entende que educação é gasto, então estamos perdidos, ou devemos fazer uma profunda mudança no conceito de educação.

Neste ano de 2008, a partir de julho, fui convocada pela CRE para assumir as aulas de História do ensino médio numa escola estadual de um município vizinho ao meu, onde descobri que não há professor nomeado pelo Estado para esta disciplina e onde também descobri outros professores, de outras disciplinas, ocupando suas próprias vagas e esperando pela nomeação, que jamais sairá.

Faço questão de afirmar que amo muito minha profissão, tenho paixão pelo meu trabalho e planejo minhas aulas com muito prazer.

Não me queixo jamais da responsabilidade que assumi, mas sim da humilhação que passei e pela desvalorização, minha e de meus colegas, como profissionais.

Não consigo entender a política educacional deste governo, pois não acredito em educação construída desta forma. Deixo aqui o meu protesto pelo descaso com que a educação no Estado vem sendo tratada'.

juremir@correiodopovo.com.br

Aproveite sua quinta-feira - Um ótimo dia para todos nós

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