sexta-feira, 7 de novembro de 2008



07 de novembro de 2008
N° 15782 - PAULO SANT’ANA


Um só, em Viamão!

Evidentemente que iriam aparecer cirurgiões plásticos negros e síndicos negros, depois que escrevi ontem que eles não existem ou são raros.

Apareceram dois, um síndico negro; um outro cirurgião plástico negro. E me mandaram notícias sobre a existência deles:

“Professor Paulo Sant’Ana. Ao adentrar no edifício onde resido, fui alertado pelo porteiro (senhor Jorge) de que lera em sua coluna na Zero Hora que você dará um presente para quem apontar o condomínio que tiver um negro como síndico. Acontece que no meu edifício o síndico é negro, bancário e torcedor.

O edifício localiza-se na Avenida Princesa Isabel, 57, Bairro Azenha, prédio onde o seu contador Moresco tinha escritório. Fone do porteiro 3219-9570. Abraços, (ass.) Ribeiro”.

E o próprio cirurgião plástico: “Paulo Sant’Ana. Fiquei surpreso ao ler sua coluna da Zero Hora do dia 6 de novembro de 2008 sobre racismo.

Venho informá-lo de que médicos negros existem, sim! São poucos, mas felizmente não são inexistentes como afirmaste.

E sua frase: ‘Cirurgião plástico negro, nunca haverá no Brasil’. Sou negro, médico cirurgião plástico há 20 anos em Porto Alegre. Meu consultório fica no Centro Clínico da PUC, no mesmo prédio, inclusive, onde o senhor consulta.

Tenho uma clínica de cirurgia plástica nesta cidade, sou vereador em Viamão com dois mandatos, presidente da Comissão de Saúde e vice-presidente da Câmara Municipal de Viamão.

Minha filha, doutora Karina Cristaldo, também negra, é médica e está fazendo residência em cirurgia plástica no Hospital da PUC.

Sou leitor assíduo da sua coluna e fui procurado por pacientes, colegas, amigos, parentes e funcionários, então lhe escrevo para esclarecer e peço que, na condição de formador de opinião, repasse esta informação aos seus leitores. Atenciosamente, (ass.) doutor Lindo Cristaldo, CRM 11801, cirurgião plástico e gremista de coração”.

Passo agora a responder ao cirurgião plástico Lindo Cristaldo, negro e gremista. Doutor, eu não escrevi que não existiam médicos negros. Eu escrevi que eram raros. Tenho até um amigo de infância, o Francisco Teles, que é médico e negro, grande figura, o Chiquinho. Mas veja o seguinte.

Por sinal, seu nome, Lindo Cristaldo, cirurgião plástico, vai pra coleção do Moacyr Scliar de nomes que condicionam profissões.

Ocorre, no entanto, doutor Lindo Cristaldo, que a sua digna e operosa existência não desmente minha coluna de ontem. Eu escrevi que não havia cirurgiões plásticos negros. E não há cirurgiões plástico negros.

Há um só cirurgião plástico negro. Um só. Isso consagra a minha coluna de ontem. Porque eu queria que houvesse mil cirurgiões plásticos negros, assim como os há, aos milhares, brancos.

Mas existe um. Pelo menos um, o senhor. Não é pouco, doutor Lindo Cristaldo? Não, não é pouco. O senhor é o bastante. Mas só que pra minha tese e afirmação é pouco.

Síndico negro também apareceu um. Eu escrevi que quase não havia. E havia um. É muito pouco.

Foi isso que quis dizer, que eram poucos.

O senhor sabe que não apareceram os psicanalistas negros. Eu escrevi que não havia. Mas devem existir. Bem como eu escrevi, poucos, um aqui, outro ali.

O senhor achou que porque existe um cirurgião plástico negro a minha tese estava desmoralizada? Não, doutor, a minha tese ficou consagrada.

Eu queria ver cirurgiões plásticos negros às pamparras, jornalistas negros às mancheias, síndicos negros de montão.

E existe apenas meia dúzia de gatos pingados.

O senhor, doutor Lindo Cristaldo, elevado exemplo, é o meu exemplo.

Que coisa boa que o senhor existe, doutor Lindo. E que má coisa que não existam outros, centenas de outros como o senhor.

Apareceu um! Que milagre! Em Viamão!

Mas que coisa aconteceu na manhã de ontem em Farroupilha. Dois assaltos a banco. Uma quadrilha armada até os dentes e mascarada transformou o centro de Farroupilha em praça de guerra, com uma fuzilaria espantosa, fuga, reféns, a polícia enfrentada à bala pelos assaltantes!

Onde é que estamos? Onde é que estamos?

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