Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
07 de novembro de 2008
N° 15782 - DAVID COIMBRA
O lema de Fogaça
Fogaça reelegeu-se prefeito de Porto Alegre com um lema absurdo, do ponto de vista da lógica:
A mudança tem que continuar. Ora, mudança e continuidade são conceitos antônimos. Ou algo bem muda, ou bem continua.
Fogaça era candidato da situação. Logo, defendia a continuidade. Ele queria continuar prefeito. Mas seus marqueteiros sabiam de sobejo que, no Brasil, qualquer candidato a qualquer cargo tem que se apresentar como agente da mudança, ou não se elege.
Como destrinçar esse novelo eleitoral? Os tais marqueteiros, com boa competência, resolveram o problema cometendo um contorcionismo no verbo: prometendo que tudo seria diferente, se ficasse igual.
Agora, justiça se faça: a ânsia pela novidade não é só brasileira. Nos Estados Unidos, Barack Obama elegeu-se presidente debaixo do slogan “sim, nós podemos mudar”.
E o tão citado “desejo de mudança” identificado pelos publicitários não palpita só na política. Já ouvi consultores paulistas ensinando que uma pessoa, quando está há muito tempo exercendo a mesma função em uma empresa, tem de ser incentivada a mudar, ou ser despedida, ainda que se trate de excelente funcionário.
É para dizer essas coisas que os consultores paulistas ganham milhares de dólares dos empresários provinciais.
As mulheres também. Volta e meia elas miam:
– Aaai, minha vida está tão iguaaal... Tudo tão chato... Preciso de uma mudança...
O próximo passo é ela pintar ou cortar radicalmente o cabelo. Em seguida, passará a arder-lhe no peito arfante o fogo da infidelidade.
Mudança. As pessoas clamam o tempo todo por mudança. Nem sempre foi assim. A aflição pela novidade é um sentimento criado pelo capitalismo em meio ao século 19. Conheço mulheres que têm mais de cem pares de sapatos.
Conheço homens que trocam de celular a cada seis meses e de carro a cada ano. Precisa? Eles acham que sim. Por quê? Porque alguém disse a eles que sim. Quem? Marqueteiros do quilate dos assessores de Fogaça.
Esta semana mesmo, para que a roda do capitalismo brasileiro continue girando, Lula anunciou R$ 4 bilhões aos bancos das montadoras de carros. O problema é que não existe mais lugar nas cidades para tanto carro.
E o consumo é tamanho, de tudo que há, que os recursos do planeta estão se extinguindo. O capitalismo está chegando ao seu limite – algum dia haveria de chegar.
Em pouco tempo, o mundo inteiro terá de adotar o slogan de Fogaça, só que invertido: a mudança será a não-mudança. As pessoas terão de mudar, transformando-se em conservadoras. Terão de manter-se como estão, repetir-se, não fazer. Repelir o novo, enfim. Será difícil. Mas também será irrevogável.
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