quarta-feira, 5 de novembro de 2008



05 de novembro de 2008
N° 15780 - SERGIO FARACO


Sepukai

Eis um país do futuro, a Mongólia, cujo vertiginoso desenvolvimento tem provocado atônitos comentários nos corredores da ONU. Os cientistas mongóis já enviaram uma Laika a Marte, onde se acasalou com um astronauta, pariu e passa bem.

Enquanto as sumidades norte-americanas continuam investigando a possível ocorrência de água no planeta vermelho, um bafo que seja, a NASA da Mongólia já estabeleceu uma colônia lá, inspiradora d’As Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury, que apesar do nome é mongoloparlante.

Os automóveis de lá têm revolucionária motorização. Nos Estados Unidos, um hebdomadário troçou a respeito, comentando que naquele país os carros são abastecidos com baldes. Baldes, sim, mas o pasquim lhes omitiu o conteúdo para salvaguardar interesses petrolíferos:

os pistões rotativos projetados pela engenharia mongólica trabalham com suco de limão-galego e um só balde proporciona autonomia de sabe-se lá quantas léguas. Ou mais: nas ruas e estradas da Mongólia, como se sabe, não há subidas, só descidas. Quem vai, fica.

Um dos segredos desse progresso é a juventude da população. O jovem sabe o que faz. O homem mais idoso da Mongólia, Luiz Ernani, tem 59 anos e é trisavô.

Explico: ainda na puberdade, os mongóis fazem o Curso de Fornicação, que lá se chama Boriak, e dali já saem boriakando ladeira abaixo. Pode parecer estranho que não sofra o país as seqüelas do superpovoamento. Ora, eles resolveram comilfô o peso social representado pela terceira idade.

Quando o mongol faz 60 anos, o governo lhe oferece uma festa, depois o cerca num canto e lhe dá com um facalhão na pança, o Bugo, que entra pelo umbigo e sai pelo pomo adâmico. A cerimônia se chama Sepukai e é tri-tocante. Aproveita-se o corpo para fazer torresmo.

O Sepukai é considerado pela ONU excelente método para reduzir a população às parcelas economicamente ativas. Os velhos oneram o erário com suas aposentadorias, precisam de remédios e incomodam, além de enfear a exuberante natureza do país e prejudicar o turismo com suas carunchosas figuras.

E pior: custam a morrer. Mortos, mais despesas geram: o terno, a gravata, o féretro, o círio, o túmulo ou a urna e por aí vai, sem falar no cachê da funerária. Na Mongólia, o figurino é acabar com a laia deles.

Aqui é Terceiro Mundo. Os velhos mandam na iniciativa privada e na pública, gozam de coxudas rendas previdenciárias e, se velhos demais, hospedam-se em albergues de luxo, onde têm, com verbas estatais, um vidão de nababos.

Por isso o país não progride. Nossos carros ainda empregam o veterano Ciclo Otto, o preço da gasolina é um acinte e nosso foguete espacial, ao partir, dá um traque e cai sentado

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