segunda-feira, 3 de novembro de 2008



03 de novembro de 2008
N° 15778 - KLEDIR RAMIL


Mundo virtual

Se no dia-a-dia já está difícil acreditar no que as pessoas dizem, imagine no ambiente nebuloso da internet, onde a vida por definição é virtual.

Virtual é a simulação de algo criada por meios eletrônicos. É uma imitação da realidade. É “como se fosse”. Você participa de um universo de mentirinha, mas sabe o tempo todo que está vivendo uma ficção. É enganado conscientemente, sabe onde está se metendo. Como dizia o poeta, “finge que me ama e eu finjo que acredito”.

Pois nesse ambiente fictício, sem governo nem autoridade, circula um sem números de informações apócrifas, falsamente atribuídas a um autor ou de autoria duvidosa. Ninguém se responsabiliza por nada e todo mundo pode dar palpite sobre qualquer assunto. É uma terra de ninguém e, ao mesmo tempo, de todo mundo.

Reconheço que é uma forma democrática de circulação de conhecimento, onde você pode interagir, alterar o conteúdo, dar sua contribuição. Mas o resultado não é confiável. Como na vida em geral. O mundo virtual está cada vez mais próximo da realidade. Ou será o contrário?

Um bom exemplo disso é a Wikipédia, uma enciclopédia online onde qualquer um escreve o que bem entende. Não dá pra acreditar em tudo que está ali. A idéia de softwares livres é outro exemplo - nesse caso positivo - dessa diluição autoral.

Alguém inventa um programa, abre o código fonte e solta na rede pra quem quiser alterar, mexer, melhorar. Talvez no futuro a criação artística também seja assim, ninguém mais vai ser dono da obra.

Como já são os roteiros de Hollywood, escritos a várias mãos. Confesso que é um pouco difícil para mim, um artista, conviver com essa idéia. Não gosto que mexam em um texto que escrevi. Nem que alterem a harmonia e a melodia de uma canção que leva minha assinatura.

Em relação a assuntos técnicos, como programas de computador, concordo que é diferente. Teoricamente, várias cabeças são capazes de criar melhor do que apenas uma. Mas uma obra de arte é uma criação muito pessoal. Como um filho.

Antigamente, em determinadas tribos indígenas não existia o conceito de casal. As relações eram abertas. Cada criança que nascia era criada por todos, não havia exatamente um pai legítimo.

Hoje em dia, com as novas estruturas familiares, estamos de certa forma nos aproximando desse modelo. O mundo dá voltas, talvez seja um retorno ao sistema tribal.

Acho que estou ficando velho pra tanta novidade.

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