sábado, 1 de novembro de 2008



02 de novembro de 2008
N° 15777 - DAVID COIMBRA


Mulheres de médicos

Não sei por que as mulheres de médicos têm essa fama. De serem propensas à infidelidade, digo. Conheço muitos médicos e sei da integridade pétrea de suas ilustríssimas.

Já tive até um sogro médico, e a mulher dele, não por coincidência minha sogra, era honesta como um capuchinho. Talvez seja por causa daquele velho best-seller do Frank Slaughter, “Mulheres de Médicos”... Pode ser. O fato é que alguns preconceituosos pensam... coisas... a respeito das mulheres dos médicos.

Alguns desses conheci em Criciúma, quando lá trabalhei nos anos 80. É que, na época, o Criciúma tinha um timaço onde ponteava o meia Rached, e o meia Rached granjeava fama de seduzir as mulheres dos médicos da cidade.

O Rached, não há dúvida, exercia atração sobre as fêmeas em geral. Um tipo meio árabe, moreno, cerca de um metro e noventa de altura, queixo quadrado, olhar bondoso. Jogou no Grêmio, uma época. Fez parte daquele time que tinha De León, Renato Portaluppi, Osvaldo. Jogava muito.

Meia-esquerda clássico. Chutava forte com os dois pés (um de cada vez). Lançava em profundidade com a precisão de um Gérson. Com a bola nos pés, tinha a inteligência de um Chico Buarque.

Parecia lento; não era. Sua passada larga compensava o aparente vagar dos movimentos. Mesmo assim, não deu certo no Grêmio. A camisa tricolor comichava-lhe no corpo, o tamanho da responsabilidade o oprimia.

No Criciúma, se encontrou. Tornou-se o melhor jogador do time, o craque do campeonato. Com ele, o clube foi campeão pela primeira vez. Ídolo e bonitão, Rached se transformou no objeto de desejo das mulheres da cidade.

Os boateiros espalharam que, por algum motivo, ele preferia mulheres de médicos, e que as mulheres de médicos, por algum outro motivo, o preferiam também.

Mentira, claro, mas a fofoca contribuiu para que Rached acabasse saindo do clube – havia muitos médicos entre os conselheiros, alguns bem próximos da diretoria.

Quando Rached saiu do Estado, pensei: tem tudo para se consagrar num grande clube. Mas não. Cumpriu carreira mediana, bem abaixo das possibilidades do seu futebol. É que, como em tudo na vida, só talento não basta. Há que se ter personalidade para usá-lo na hora certa.

A hora certa, no caso do futebol, é a partida decisiva. Esse Grêmio do Celso Roth tem vacilado nas decisões. Todas as decisões. É um time fraco não de futebol: de alma. Quando começou o campeonato, ganhava tanto porque jogava com uma marcação agressiva.

O Grêmio tinha medo de perder, então defendia-se sem parar. Defendia-se obsessivamente. Agora quer ganhar, e não consegue. Porque não sabe como. Porque o Grêmio não tem que tentar ganhar, tem que tentar não perder.

Time moscão

Mas é muita desfaçatez dos dirigentes do Grêmio quererem que o Inter jogue por eles neste domingo. Francamente! A comissão técnica do Grêmio está jogando fora um campeonato nacional por pura imobilidade.

O Grêmio está falhando como instituição neste ano. Promoveu uma eleição que desanimou seu presidente em meio ao campeonato.

Odone, dirigente de competência notória, foi derrotado nas urnas pela facção do seu próprio vice de futebol. Este, por sua vez, nunca mostrou energia para mobilizar o grupo de jogadores. Trata-se de um homem polido e educado, talvez até demais para o ambiente do vestiário de futebol.

O técnico, isso é fato, teve tino para montar um bom time com os parcos recursos de que dispunha, mas, na hora da decisão, de qualquer decisão, ele não consegue nem fazer com que os jogadores entrem em campo atilados.

A deficiência do Grêmio neste quesito é tão grave que, num Gre-Nal, tomou gol numa falta cobrada enquanto a barreira estava sendo arrumada. Até nas nossas peladas na Rua da Tendinha, no IAPI, alguém ficava marcando a bola, enquanto o goleiro ajeitava a barreira.

Depois, na outra decisão, o Grêmio levou um gol a 15 segundos numa bobeada clássica de seus jogadores. Alguém imagina um time treinado pelo Felipão levando gols assim? Isso é coisa de time moscão.

O Grêmio não faz por si e quer que o Inter faça??? Um time desses não merece ser campeão.

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