quinta-feira, 8 de maio de 2008



08 de maio de 2008
N° 15595 - Paulo Sant'ana


Decisão óbvia

Foi decretada por um juiz a prisão preventiva do casal Nardoni, matador da menina Isabella.

São tão densas as provas contra o casal, que o juiz abandonou uma tendência da Justiça brasileira, que é benevolente contra réus de homicídio, que costumam em sua grande maioria ser mantidos em liberdade até o julgamento pelo júri.

Ontem, o Jornal Nacional mostrou o levantamento fotográfico dos locais do crime, chamando a atenção a quantidade de manchas de sangue presentes no carro, no corredor, nas cobertas, em vários objetos e no chão da sala do apartamento.

Se as manchas de sangue encontradas no apartamento são inequivocamente de Isabella, como deixar de crer que as encontradas no carro também não o sejam, apesar dos exames não terem podido elucidar?

A menina sangrou em agonia durante mais de 10 minutos, deixou manchas de sangue no carro, e quando foi carregada o sangue acabou se espalhando por todo o trajeto, sujando os assassinos e até uma das duas crianças irmãs da vítima, como comprova uma mancha de sangue em forma de mão infantil encontrada na colcha.

Tecnicamente e em face do clamor público que ontem levou uma multidão até a frente do edifício onde se encontrava já preso o casal, esperando sua saída, além dos requintes de crueldade com que foi cometido o crime, era esperado que o juiz acolhesse as representações do delegado e do promotor, que pediam a prisão preventiva.

Filtrou a opinião dos peritos, que vão depor no processo. E todos eles não têm dúvida de que a autoria do crime é do casal.

Há uma perspectiva muito grande, em face desses dados, de que seja recusado o pedido de habeas corpus que será interposto pela defesa para tentar pôr em liberdade os réus.

É que quando um inquérito é bem elaborado pela polícia, a Justiça costuma acolhê-lo em sua tese.

Se o casal Nardoni viesse a ser julgado por um juiz, não tenho dúvida de sua condenação.

Mas o será por um júri, sete pessoas escolhidas da comunidade. Então pode ser diferente o veredicto.

Embora os dois réus já tenham contra si a opinião pública, fato que pode se refletir nos jurados.

De qualquer forma, não me lembro de outro crime no Brasil que tenha obtido tanto interesse e revolta, por comoção, da opinião pública.

Não pensem que é fácil a vida de um colunista. Principalmente quando dá opinião nas questões em que os dois lados têm razão, que são muito mais do que se pode imaginar.

Aí você, que é colunista, opina a favor dos carroceiros e chovem e-mails contra.

Opina a favor da pena de morte e chovem e-mails contra.

Opina a favor do cercamento dos parques e chovem e-mails contra.

Colunista que dá opinião é todos os dias julgado pela opinião pública.

Eu aqui neste espaço, antes de escrever, tendo já escolhido o assunto, já sei que vai haver reação contrária.

Incomodo-me tanto, que às vezes me dá vontade de escrever o seguinte: sou a favor das carroças e ao mesmo tempo sou contra as carroças.

Só assim se obtém a consagração pública.

É que esta coluna é um canhão. E qualquer coisa que eu escreva aqui repercute tonitruante.

Ontem, dei aqui o nome de um coronel meu amigo que concorre a presidente da Associação de Oficiais da Brigada Militar, em eleição que se ferirá hoje. Só dei o nome, sem escrever mais nada.

O outro candidato à presidência julgou injusto e escreve-me afirmando que o meu propósito foi favorecer seu adversário, daí que tem a certeza de que não divulgarei seu nome.

Não me conhece. Aí vai seu nome: coronel Cairo Bueno de Camargo.

E desejo a todos os candidatos um feliz pleito.

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