terça-feira, 6 de maio de 2008



06 de maio de 2008
N° 15593 - Cláudio Moreno


Vale a pena

Cantado e exaltado por todos os poetas, o amor, alvo da busca incessante de qualquer homem ou mulher que esteja vivo, sempre foi visto como um perigo incontornável. Ninguém o considera inofensivo; todos respeitam o seu poder, pois sabem o quão facilmente ele pode se transformar em dor e sofrimento.

Ao longo de incontáveis milênios, a espécie humana aprendeu muito bem essa lição, e não é por acaso que todas as línguas do mundo falem nas "feridas do amor", que doem demais, custam muito a fechar e deixam cicatrizes para sempre.

Os gregos, com sua incomparável imaginação, expressaram tudo isso no belo mito de Psiquê e de Eros, o jovem deus do Amor.

Psiquê era tão bonita que os próprios poetas não tinham palavras para descrevê-la. Embora seu pai e sua mãe fossem mortais como nós, as pessoas que a viam ficavam tão estupefatas com sua beleza que a tomavam por uma filha da própria deusa Afrodite.

Tanto sua fama se espalhou que começaram a chegar, de toda a parte, peregrinos que vinham prestar devoção àquela nova divindade.

Quando Afrodite percebeu que seus santuários estavam ficando vazios, sua cólera foi terrível: convocou seu filho, Eros, o belo deus de asas brancas, que vivia percorrendo os palácios e as aldeias para semear, com suas flechas invisíveis, a desconcertante loucura do amor.

"Vais castigá-la por mim; faz com que ela se apaixone pelo mortal mais desprezível", disse a deusa, sem imaginar a surpreendente reviravolta que sofreria seu plano: ao ver a linda Psiquê adormecida, Eros ficou tão perturbado que deixou cair sobre o próprio pé a flecha que ia lançar. O feitiço tinha atingido o feiticeiro, e ele se apaixonou perdidamente pela princesa.

É claro que, no fim de tudo, depois de muitas peripécias, a jovem vai se tornar imortal e os dois vão viver felizes para sempre. Antes disso, porém, houve um momento em que Psiquê pensou que jamais iria casar. Intimidados por sua beleza, os homens a admiravam à distância, mas não ousavam se aproximar.

O pai, preocupado com a filha, foi perguntar ao oráculo de Apolo se ela teria marido; a resposta o deixou aterrorizado: "Não é com um homem que Psiquê vai casar, mas com um monstro cruel, feroz e traiçoeiro, que voa pelos ares e a todos queima com sua chama e fere com suas pontas aguçadas.

Ninguém está livre dele, nem mesmo os próprios deuses". Nós, que conhecemos o desfecho da história, sabemos que o oráculo estava falando de Eros - e não estranhamos as sombrias palavras que ele usou para se referir ao amor, porque sabemos que é assim mesmo.

Amar é tão perigoso e fascinante quanto caminhar pela borda de um vulcão; é um risco terrível, mas, como diz muito bem Edgar Morin, é sempre um belo risco a correr.

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