Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
11 de fevereiro de 2008
N° 15507 - Luiz Antonio de Assis Brasil
Palavras (25)
Horror vacui - O vazio dá-nos uma vertigem. Em nosso mundo extravagante, todos os espaços devem ser preenchidos, para que os aceitemos.
Na linguagem, os adjetivos representam o medo de que o substantivo, sozinho, leve-nos ao nada.
Preenchemos os substantivos para que não fiquem vazios. Esquecemo-nos de que os substantivos, quase sempre, amparam-se a si mesmos.
Carnaval - Mudam os tempos e o instinto barroco permanece, repelindo os espaços em que nada há.
Assim os retábulos das igrejas de Ouro Preto, arreados de ouro, de prata, de folhas de acanto, cintilações.
Nossa melhor medida tropical e carnavalesca, entretanto, é um carro alegórico. Toda curva, toda reta, todo quadrilátero, círculo ou elipse deve conter algo.
O vazio - O mestre-pintor setecentista parou, magnetizado e trêmulo, frente ao painel vazio na parede da capela-mor, lado da Epístola. O mestre, mais uma vez, foi possuído pelo temor de que não tivesse arte suficiente para preencher o nada.
Tinha idéias, sua alma era povoada de cores: da mata, do céu, do mar, dos trovões, das crisálidas. Sua alma temia Deus. Como tudo isso falhava ante o vazio?
Nessa noite, um Emissário do Altíssimo segurava sua mão. A mão tutelada do mestre preencheu todo o painel com formas, texturas e matizes. Era uma obra de Deus.
Ao acordar, correu para o altar-mor. Tinha esperança de que o painel estivesse completo, e que nada mais sobrasse para sua indigníssima arte, tão falha, tão humana.
Mirou o painel. Seguia vazio, como ontem. Sentou-se, inclinou a cabeça. Levou as mãos toscas ao rosto. Os dedos, curvos pela artrite, permitiam que se vissem as lágrimas. Chorou de sua incapacidade, de sua fraqueza. Ficou ali até que o sacristão pediu-lhe que saísse.
No dia seguinte, contando apenas com sua humanidade e sua fraqueza, o mestre começou a pintar. O Emissário, por sobre seu ombro, contemplava o painel, que logo ficou cheio das mais fulgurantes e humanas formas, texturas e cores.
Passados duzentos anos, o painel ainda está lá. Um funcionário do Patrimônio Histórico, com amor, o restaura. Os vazios, esses, acontecem apenas quando subestimamos as virtudes da fraqueza humana.
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