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sábado, 9 de fevereiro de 2008
09 de fevereiro de 2008
N° 15505 - Paulo Sant'ana
O boato salvador
Vire um boateiro. Reúna a sua família ou cada um dos integrantes da sua família e espalhe o boato: você vai ser doador de órgãos.
Depois, com cada amigo que você vai se encontrar, incuta o boato: você vai ser doador de órgãos.
A seguir, espalhe o boato entre os seus vizinhos. E no bar da esquina e com qualquer pessoa conhecida com que você se encontrar no shopping: insista que você vai ser doador de órgãos.
E no seu ambiente de serviço não tenha outro assunto: você vai ser doador de órgãos, espalhe o boato em todos os corredores e andares da sua repartição ou da sua empresa.
O fenômeno seguinte é o segundo estágio do boato: os seus vizinhos, os seus amigos, os seus colegas de repartição ou de empresa vão transmitir o boato entre si.
Até que o boato vá atingir, agora por outras vozes, a sua família. E não se importe que o boato se espalhe por toda a cidade: centenas de pessoas atingidas pelo boato se contaminarão com ele e decidirão também serem doadores de órgãos.
E a sua família se sentirá orgulhosa de que você vai não só doar os órgãos, como contagiará os outros a fazê-lo também.
É que não adianta você ser doador de órgãos e sua família não saber. Porque só sua família, caso você morra, pode doar os seus órgãos, a sua vontade anteriormente manifestada não terá validade se sua família não autorizar esse ato sublime de doar os seus órgãos.
Então espalhe o boato imediatamente. A vida de milhares de pessoas que necessitam dramaticamente de transplante de órgãos para viver depende desse boato.
Mãos à obra! Ou melhor, lábios e garganta ao boato! Já e agora!
A Santa Casa, por exemplo, se orgulha de ter transposto este ano o número 2.000 em transplantes.
No dia 31 de julho passado, a Santa Casa já tinha realizado 2.068 transplantes, compreendendo rim, fígado, córnea, pulmão, coração, medula óssea, válvulas cardíacas e conjugados de rins e pâncreas.
E esses milagres se multiplicam também pelo Instituto de Cardiologia, pelo Clínicas e pelo Hospital da PUC.
Graças principalmente à solidariedade dos gaúchos que doam seus órgãos, que se atiram à esse de transmitir vida aos aflitos que estão na fila dos transplantes, à espera ansiosa de que o boato de que você vai ser doador se espalhe e se constitua em sua salvação.
Porque não adianta só você saber que é doador. É indispensável que sua família autorize a doação dos seus órgãos, caso contrário nada feito quando você morre.
A doação, pois, deixou de ser uma decisão intimista, um fulgor onanista, é preciso contagiar os outros com essa esplêndida notícia, tecnicamente os outros é que vão carimbar a sua intenção sagrada de ver os órgãos retirados de seu corpo e redundar em vida estuante para os receptores.
Como pregava São Francisco, é dando que recebemos.
O que você está fazendo que não espalha logo o seu magnífico boato?
Viva a vida!
Crônica publicada em 11/08/2001
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