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quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
METÁFORAS DO FUTEBOL
O futebol não tem surpresa nem caixinha. A derrota do Internacional para o Goiás, no último domingo, ajudou na queda do Corinthians.
Mas o clube paulista foi derrubado para a Segunda Divisão pela sua própria incompetência, pois não conseguiu ganhar de um Grêmio pouco confiável na defesa dos brios gaúchos, quer dizer, colorados, ainda pisoteados pela maracutaia que tirou o título de 2005 do Inter e o deu aos corintianos. Não importa se o Inter perdeu para o Goiás por não ter tido forças para ganhar. Não interessa se o Grêmio poderia ter feito mais ou menos para definir o resultado a seu favor.
O importante é que o futebol satisfez os mais baixos instintos de todos nós. Nada mais bem partilhado entre os humanos do que o desejo de vingança. Ainda mais uma vingança metafórica, dessas que ficam no campo do jogo.
Agora a Fiel saberá que não se mora no paraíso sem algumas temporadas no inferno ou, ao menos, no purgatório. Dava para ouvir o riso sinistro de todos nós, colorados, no momento em que o árbitro, como dizem os narradores de futebol mais clássicos, trilou o apito no estádio Olímpico e decretou o enterro do 'timão'.
O futebol, está provado, revela muito das nossas almas. Talvez nem ao psicanalista confessássemos um desejo tão mesquinho e violento de vingança.
Aqui se faz, aqui se paga, esse foi o nosso único pensamento altruísta nos últimos dias. O Corinthians tem a segunda maior torcida do Brasil e certamente a maior rejeição. Junto com o Flamengo, representa a arrogância de Rio e São Paulo. Odiar o Corinthians é uma forma de odiar a Rede Globo.
O pior é que se deve tomar cuidado com esse tipo de brincadeira. Os torcedores mais fanáticos acham que isso é sério. Eles são capazes de sair por aí espancando e matando. Eu adorei o rendimento do Inter em Goiânia.
Nunca vi um toque de bola tão refinado e eficaz. Fizemos tudo para não ganhar e conseguimos. O treinador Abel Braga mexeu muito bem na equipe ao final do primeiro tempo, tirando Fernandão e Gil. Com isso, numa só tacada, desarticulou o nosso time e deu mais chances ao adversário.
Havíamos feito um gol por engano no primeiro tempo. Deve ter sido erro de comunicação. O hermano Orosco não deve entendido as orientações em português, ainda mais o português falado por Abel, e fez um gol que ninguém queria e foi o menos comemorado da história colorada.
O goleiro Clemer ousou demais ao se adiantar duas vezes na cobrança do pênalti que definiu o jogo. Era só para mostrar interesse pela defesa. E se o árbitro não mandasse repetir? A arbitragem foi excelente e justa.
Tudo isso são especulações. A única certeza é que o rebaixamento do Corinthians terá repercussões na oratória do presidente da República. Talvez haja um elemento positivo nisso tudo. Lulla pode desistir realmente de um terceiro mandato para acompanhar o 'timão' nesta temporada longe dos holofotes e depois retornar mais forte.
Ele até poderia continuar presidente, mas no Parque São Jorge. Voltar junto com o Corinthians ao primeiro plano poderá ser, para ele e a Fiel, uma espécie de retorno messiânico de Dom Sebastião.
Salvo se a Constituição e o regulamento do CBF forem mudados ao mesmo tempo para acomodar interesses de um eleitorado tão fiel. Nunca se sabe. Como é bom, de vez em quando, perder. Dá uma alegria! Foi um domingo especial: eu torci contra o Inter e a favor do Grêmio. Basta.
juremir@correiodopovo.com.br
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