quinta-feira, 6 de dezembro de 2007



06 de dezembro de 2007
N° 15440 - Nilson Souza


Minha história de Natal

As festas de dezembro me deixam em pânico. Sou tão avesso a celebrações obrigatórias que uma de minhas melhores amigas já sugeriu que eu devo ter fobia social.

Talvez tenha, mas a minha ansiedade é seletiva. De vez em quando, rompo minhas próprias barreiras e cumpro a parte que me cabe no universo das convenções.

Foi o que fiz na semana passada ao comparecer ao jantar do 40º aniversário de minha formatura em Contabilidade - em tempos pretéritos, um curso técnico equivalente ao segundo grau de hoje.

Fui, mas fiz uma exigência à anfitriã, a dedicada colega Maria Eloisa Almeida, que se deu o trabalho de pesquisar nomes, endereços, contratar o local e convocar alunos e professores separados por quatro décadas:

- Antes de qualquer coisa, pede para as pessoas se apresentarem, pois não conheço mais ninguém.

Assim ela o fez. Tínhamos que dizer nossos nomes, o que fazemos hoje, quantos casamentos, filhos, netos etc. Difícil não ter fobia social numa hora dessas, não é mesmo?

Mas a idéia fora minha. E acabou sendo bem divertido. Aproveitei o meu minuto de exposição para lembrar aos antigos colegas que, embora diplomado como eles, eu acabara me tornando não um contabilista, mas sim um contador - só que de histórias.

Jornalismo é isso, é contar histórias que toquem as pessoas, que informem, que emocionem, que as enriqueçam culturalmente e as façam pensar.

E naquele momento exato eu tinha uma história pessoal para contar, sobre o estudante pobre que só chegou à universidade porque um generoso professor pagou-lhe a inscrição para o vestibular, sob o pretexto de que era um presente de Natal.

Aproveitei que a turma estava reunida depois de 40 anos para fazer um agradecimento público justamente ao nosso professor de História, Harry Bellomo, também presente.

Foi graças a ele que segui adiante nos meus estudos e descobri o meu rumo profissional. Mestre competente, exemplo de integridade e humanismo, ele passou a vida ensinando e prestando ajuda desinteressada a jovens que mal conhecia.

Fiquei feliz com a oportunidade de fazer aquela manifestação. Foi o resgate histórico de uma dívida de gratidão. Tenho certeza de que, naquele momento de superação da fobia social, estava falando em nome de muitos outros estudantes que tiveram a sorte de cruzar os seus destinos com o professor Bellomo. Por eles também faço agora este registro.

Dezembro também é um bom mês para quem gosta de contar histórias.

Uma ótima quinta-feira com friozinho por aqui mas pelo menos a previsão é de tempo bom.

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