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sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
07 de dezembro de 2007
N° 15441 - Paulo Sant'ana
A bipolaridade
Recebi do mais famoso acadêmico gaúcho da ABL: "Meu caro SantAna, em primeiro lugar obrigado pela menção ao meu nome em tua coluna - cada vez que isto acontece, fico mais imortal.
A restrição que faço ao uso do eu no texto se refere ao jornalismo informativo, não à crônica, gênero que tu e eu praticamos. Mas creio que o uso do eu só se justifica quando este eu pode ser trocado por nós, isto é, quando a experiência do cronista ultrapassa os limites de sua pessoa.
É o que acontece no teu caso, como o comprovam as toneladas de doces que recebeste, evidência tão convincente quanto calórica da extraordinária repercussão de teu trabalho. Grande abraço do amigo Moacyr Scliar".
Uma pessoa muito próxima de mim me propôs: "Vamos marcar uma janta".
Minha resposta: "Não posso, atualmente só ando marcando cirurgia".
Confesso uma intimidade minha: sou bipolar.
E acrescento: desconfiem de todos os unipolares. Eles são pessoas de uma idéia só, de um sentimento só, de uma mulher só, de um emprego só, de uma fonte de renda só e de uma solidão de dar dó.
O bipolar como eu, ensinaram-me os psiquiatras, quando não está depressivo, está eufórico.
Ambos os extremos são anormais, fogem ao padrão de felicidade pessoal.
Feliz é quem consegue equilibrar o humor entre a depressão e a euforia.
A euforia é um estado de êxtase, a pessoa se torna loquaz, eloqüente, criativa, brilhante.
Mas a euforia traz consigo uma desvantagem terrível: tomada por ela, a pessoa se mune de um tal grau de irritabilidade que se torna inconveniente, agressiva, a ponto de brigar no trânsito, brigar no serviço, brigar com a mulher, com os filhos, nos casos extremos é capaz de matar.
A depressão é um estado de prostração. A vida perde o sentido para o depressivo. Ele quer se fechar no quarto e não permite que ali entre sequer a arrumadeira e a mulher. Elas entram, mas contra a vontade dele.
O depressivo não cria nada, pelo contrário, só destrói: a si próprio. O depressivo não tem inspiração.
Aliás, noto brilhantemente só agora que depressão é exatamente o contrário de inspiração.
O ideal é o meio-termo, isto é, quando a pessoa está apta tanto à tristeza quanto à alegria, nem depressivo nem eufórico.
O limite ideal da mente está entre a tristeza e a alegria, se baixar da tristeza, entra no terreno da depressão. Se exceder na alegria, ingressa na euforia.
As minhas melhores colunas, as que levam as pessoas a recortá-las e colá-las nas paredes de suas cozinhas, são aquelas que escrevi quando estava eufórico.
Mas paralelamente a elas, na vida particular, no trabalho, no meio familiar e no trânsito, quando eufórico, ficava também perigosamente litigante. E não raro explodia em ira contra pessoas das minhas relações.
E, finalmente, quando me apanho depressivo sou um deserto árido de imaginação, foge-me o poder da criação e fujo de todo e qualquer relacionamento, desde com o garçom até com as pessoas mais caras ao meu coração.
A depressão é uma estrada íngreme e sombria que parece nos levar à morte. É o mais escuro dos túneis da mente humana.
A depressão nos aparta do mundo e nos faz maldizer o nosso nascimento.
E, quando estou depressivo, levo oito horas para escrever uma coluna medíocre, ao contrário de quando estou eufórico: escrevo então uma coluna em 40 minutos e me comparo, em qualidade de texto mesclada com emoção, a um Antônio Maria.
Tais são, sem complicados silogismos, as danças macabras ou inebriantes da bipolaridade no palco da alma humana.
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