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quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
06 de dezembro de 2007
N° 15440 - Luiz Pilla Vares
Reflexões sobre a velhice
Não que isso interesse minimamente aos meus 17 leitores, mas tenho um gosto todo especial pelo escritor norte-americano Francis Scott Fitzgerald. Assim, num dia desses, voltei a seu belo livro Seis Contos da Era do Jazz. Um conto em especial despertou a minha atenção.
Trata-se de Ó Feiticeira Ruiva, uma das mais interessantes reflexões sobre a velhice de toda a literatura contemporânea, na minha opinião ultrapassado apenas pelas "putas tristes", de García Márquez. É a história de Merlin Grainger, um empregado de uma decadente livraria. Grainger é tímido e reprimido.
Vai desperdiçando na mesmice a sua juventude medíocre. De seu apartamento, observa fascinado uma jovem vizinha que ele chama de Caroline: "Caroline era deslumbrante e clara, com um atoleiro de ruivas e cintilantes ondas à guisa de cabelos, e tinha justamente esses traços que fazem a gente pensar em beijos".
Um dia Caroline entra na velha livraria e sem mais começa a atirar livros para cima. Surpreso e fascinado, Grainger junta-se a ela e também começa a jogar livros.
O dono da loja faz vista grossa, e a rotina volta a imperar. Grainger prossegue no seu dia-a-dia enfadonho, casa-se e acaba herdando a pequena livraria. Caroline permanece como provocação e um chamado para uma nova vida, inatingível para ele.
E assim o tempo vai passando, e chega a velhice. A dele, com um casamento em frangalhos e uma opressão insuportável. Para ela, um suceder de sucessos materiais que igualmente constituíam um imenso e irrecuperável fracasso interior.
Assim, eles novamente se encontram na pequena livraria. Ela rica, bem-vestida, imponente. Ele, o mesmo fracassado. Mas não era mais Caroline: revela-se que seu verdadeiro nome é Alicia Dare, uma antiga bailarina.
Então, "Merlin permaneceu muito quieto, o cérebro subitamente fatigado, tranqüilo. Era agora... um velho, tão velho que lhe era impossível sequer imaginar que tinha sido jovem: tão velho que todo o encanto se dissipara do mundo...
Estava agora demasiado velho até mesmo para recordar... Às nove horas, Merlin, muito quietamente, recolheu-se a seu quarto... ficou um momento parado, os membros magros a tremer. Sabia, agora, que sempre fora um idiota".
A velhice é assim: ela cobra duramente as nossas escolhas e não dá uma segunda chance. A velhice é irremediável. E quando ela se apresenta, o que se pode dizer é apenas isto: bem, foi assim.
Para o bem ou para o mal, não há mais remédio. Só a lembrança, triste, de que poderia ter sido diferente, mas não foi. Resgatar o passado é uma impossibilidade infernal, mas triste e lenta. Grande Fitzgerald.
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