quinta-feira, 6 de dezembro de 2007



06 de dezembro de 2007
N° 15440 - Luis Fernando Verissimo


Autógrafos

Participei há dias, junto com o Zuenir, o Jaguar, o Sérgio Cabral, o Villas-Boas Correia, o Ruy Guerra, a Heloisa Buarque de Hollanda e muita gente mais, de um encontro de escritores em Natal, o segundo que se realiza naquela simpática cidade, que eu ainda não conhecia.

O encontro tem o patrocínio, entre outros, da prefeitura do Carlos Eduardo Alves, que é dos Alves com longa tradição política no Rio Grande do Norte, e incluiu debates, shows de música, bom convívio entre os locais e os convidados e uma entusiasmada participação do público. Comi lagostas, o que sempre é bom, e dei autógrafos, o que nem sempre é.

Quem já deu autógrafos ou costuma pedi-los tem curiosidades e vexames para contar. Acho que foi o Millôr quem certa vez deu seu autógrafo no interior de uma carteira de cigarro e, quando observou que a assinatura sairia mal porque o papel era inadequado, ouviu do pedinte:

- Não faz mal, quando chegar em casa eu passo a limpo.

Há os autografantes que escrevem "Um abraço" e o nome e pronto e há os que se sentem obrigados a fazer dedicatórias diferentes e personalizadas para cada um.

O que é ótimo para quem pede o autógrafo mas ruim para quem está na fila e precisa esperar até que a inspiração chegue ao autor. Sei de gente que considera escrever um livro mais fácil do que escrever boas ou originais dedicatórias no livro. Sou destes.

A verdade é que minha experiência dando autógrafos é de pânico constante. Sei que vou esquecer o nome de todo mundo, inclusive dos melhores amigos. E, porque sei que isto é fatal, fatalmente acontece. Não adianta recorrer a estratagemas insanos, só explicáveis pelo desespero.

- Seu nome é com i ou com ipsilone?

- É Mara, esqueceu? A sinceridade também não funciona. - Você não vai acreditar. Me deu um branco. Esqueci o seu nome. Logo o seu!

Você acaba de ganhar um admirador da sua coragem e perder um amigo.

Uma vez, vi que uma pessoa conhecida estava na fila para pegar um autógrafo meu e me deu o famigerado branco. A pessoa se aproximando e eu tentando me lembrar do seu nome, sem sucesso.

Começava com A, isso eu sabia. Ou era B? Ou C? E o pânico aumentando. Só havia um jeito. Minha mulher estava por perto. Eu a chamaria, ela reconheceria o amigo, certamente diria seu nome ao cumprimentá-lo, e eu estaria salvo.

Mas aí surgiu outro problema. Eu não conseguia me lembrar do nome da minha mulher!

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