terça-feira, 4 de dezembro de 2007



04 de dezembro de 2007
N° 15438 - Paulo Sant'ana


Os doces de Pelotas

Estou estupefato. Pensei, porque todos os indícios a isso levavam, que Hugo Chávez era um ditador.

E, para minha surpresa, Chávez perdeu o referendo que pretendia reelegê-lo indefinidamente e confiscar os bens e os ativos dos ricos, além de demitir e nomear prefeitos e governadores, entre outras prepotências.

Se perdeu o referendo, Chávez não é um ditador. Porque os ditadores, quando permitem que se realizem eleições, ganham as eleições porque as fraudam. Nunca perderam eleições decisivas quaisquer ditadores.

Se Chávez perdeu o referendo em que pregou e trabalhou por uma proposta de modificação constitucional autoritária, então a Venezuela ainda não é uma ditadura, é a minha conclusão.

Quando muitas pessoas me dizem que não entendem como pode esta coluna não ser veiculada em nenhum jornal de circulação nacional, apesar do seu sucesso rotundo em Zero Hora, respondo "Já me basta ser lido no Rio Grande e em Santa Catarina.

Consolo-me por estar em posição melhor que Van Gogh, que não conseguiu vender sequer um dos seus quadros em vida".

Perguntei ontem a uma respeitável senhora qual foi o maior orgasmo que já teve em sua vida e se foi com o primeiro marido, já falecido, ou com o atual marido.

Resposta da senhora: "Foi inesquecível, mas não foi com nenhum dos dois".

Ando atrás de três coisas e não as encontro. Algum leitor que saiba onde posso encontrá-las, me avise que eu vou buscar onde as haja:

1) papo-de-anjo em calda, diet;

2) doce de batata-doce, diet; 3) doce de coco, diet.

E se tiver ainda torrão de doce de leite, de tanto que tenho procurado, aí não precisa nem ser diet.

Outra coisa que nunca mais encontrei mas é uma delícia que minha madrasta fazia para mim na infância é doce de melancia. Que coisa gostosa.

Não é feito da parte vermelha da melancia, mas da polpa, aquela parte que fica embaixo da casca, igualzinho como se faz doce de abóbora. Meu reino por um doce de melancia!

Hoje estou melífluo. Goiabada cascão, com muito queijo! Arroz-de-leite com pitada de leite condensado! Ambrosia quase caramelada! Os doces cristalizados da banca de especiarias 43 do Mercado Público!

Baba-de-moça, também conhecida como ovos-moles, que delícia suprema, preparou-me anteontem dona Dirce Maria Fagundes, vinda especialmente de Uruguaiana para deleitar-me com esta última sobremesa, coroada de merengue! Comi de joelhos.

E não sei por que tenho uma queda obsessiva por um único doce de massa: o nariz entupido. O nome do doce é escatológico, mas o sabor é sublime.

Ainda bem que sou diabético. Se não o fosse, explodiria de tanto comer esses doces todos. Assim como sou, atiro-me a eles em pequenas rações.

O único doce do qual não me aproximo pelo risco tremendo que ele me significa é o sagu com calda de leite: só uma tigela me satisfaz, não sou como o Jayme Sirotsky, que todos os dias consegue a façanha de comer só uma colherada de qualquer doce.

Eu não, quando é sagu vou ao extremo, no mínimo uma tigela, no máximo freqüente um desses pratos refratários, cheinho.

Os doces de Pelotas! As trouxinhas de Pelotas! Os olhos-de-sogra de Pelotas! Os doces de abóbora e de batata-doce de Pelotas, os melhores são vendidos em padarias!

Se eu morasse em Pelotas, há muito que já tinha sido submetido a uma eutanásia. Para mim, os doces de Pelotas são terminais.

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