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sábado, 1 de dezembro de 2007
02 de dezembro de 2007
N° 15436 - Paulo Sant'ana
O galope do coração
Acompanho com quase desvelo o drama de algumas pessoas que conheço, por terem se submetido à cirurgia de redução do estômago.
Suas vidas foram inteiramente modificadas, sofreram brutais alterações no seu metabolismo orgânico e psíquico.
Não podem comer churrasco. Carne, talvez só guisado industrializado, algumas não podem sequer comer arroz. Bate no estômago e ele rejeita.
É incrível: olham-se no espelho e enxergam-se gordas como eram antes. São outras pessoas e dói-lhes o processo de auto-identificação.
Ando atrás de um cirurgião que faça a redução do meu coração. O meu coração já não se entende com meu cérebro.
É preciso urgentemente reduzir o tamanho do meu coração, para que se extingam quase a um deserto as suas grandes reservas de ternura.
A capacidade de compaixão do meu coração está me fragilizando quase à falência múltipla dos meus órgãos.
Urge reduzir meu coração, principalmente, para que não me comovam mais as dores dos outros. Eu estou me finando diante das aflições alheias. Um homem foi feito só para safar-se de suas dificuldades, não para incorporar ao pergaminho da sua pele todas as imagens dos sofrimentos dos outros homens com quem se relaciona.
Eu preciso reduzir meu coração para ficar igual aos outros. Levo uma grande desvantagem em escolher a bondade como rumo existencial.
Para ser feliz tem-se que ser mais duro e insensível, tem-se de passar ao largo das dificuldades dos outros, tem-se de ser mais egoísta, não dá para ficar se estressando com essa ausência completa nos atos humanos dos ensinamentos de generosidade, fraternidade, solidariedade que emanam das Escrituras.
E também preciso depressa de uma cirurgia de redução do coração para me munir da capacidade de invejar e deixar de ser invejado.
Eu tenho necessidade de mudar o fulcro da minha vocação e me tornar medíocre para ser melhor aceito pelo meio e me integrar a ele.
Toda a origem desse meu desajuste social e intelectual está na minha hipertrofia cardíaca, meu coração viu alargar hiperplasicamente as suas paredes e está quase explodindo de tanta compreensão compassiva armazenada.
A petulância hipertrófica do meu coração consiste em querer abarcar e abraçar o mundo. Tolice e loucura do meu coração.
Tem de ser reduzido para parar de meter o bedelho no seu redor. Meu coração tem de ficar na sua.
E cessar de querer amar. E deixar de morrer de amores. Meu coração tem de deixar de palpitar de amor e de piedade.
Meu coração tem de parar com sua mania de amor.
Conclamo um cirurgião urgentemente a colocar rédeas no meu coração. Tornou-se inviável que ele continue disparando em seu galope louco de entrega.
É imprescindível que alguém estanque de um golpe a capacidade de fabricar lágrimas do meu coração.
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