03 de Fevereiro de 2025
CARPINEJAR
A coragem que faltou a Ronaldinho
Não é por dinheiro, não é pela boemia ou pela badalação. Neymar volta para a Vila Belmiro por um motivo nobre: salvar o time que o lançou, mergulhado em dívidas, recém-egresso da Segunda Divisão.
Ele nem precisa fazer gol, só o seu retorno já garantirá uma receita fabulosa com venda de camisetas, público no estádio e marketing orgânico. Pode-se falar qualquer coisa de Neymar - que ele não convence há quatro anos, que a série de lesões o afastou do estrelato, que ele deixou a carreira de canto para viver as benesses da fama, que jamais foi o mesmo do Barcelona, quando participou do inigualável trio ofensivo do futebol espanhol ao lado de Messi e Suárez -, pode-se gostar ou não gostar do maior artilheiro da história da Seleção Brasileira, dar de ombro ou virar as costas, menos dizer que ele não é grato a sua origem.
Neymar demonstrou uma fidelidade que faltou a Ronaldinho Gaúcho.
Quando comunicou que voltaria a jogar no Brasil, após passagem modesta pelo Milan, em 2011, era certo e unânime que o Bruxo retornaria ao Grêmio que o revelou. "Eu gosto tanto do Grêmio que, se fosse sempre assim, com estádio cheio e torcida apoiando, eu jogava de graça. O que vale é o amor à camisa", disse o jovem Ronaldinho, quando se sagrou campeão gaúcho em 1999.
Ele engoliria suas próprias palavras de jura eterna, quebraria sua promessa do pior jeito: abandonando o casamento no altar.
Com festa marcada no Olímpico para seu anúncio, Ronaldinho preferiu jogar no Flamengo. Desrespeitou acordo firmado com o Tricolor de Porto Alegre. A combinação foi dissimulada e maquiavélica, um leilão do passe por baixo dos panos. O Grêmio serviu de boi de piranha para negociar alto com o Maracanã.
O torcedor gremista que testemunhou seu glorioso nascimento para o esporte jamais perdoou a sua desfeita, a sua ursada. Até hoje, ele e seu irmão, Roberto de Assis Moreira, que também jogou no Grêmio, são figuras controvertidas no Estado.
Neymar experimentou dilema semelhante ao de Ronaldinho, só que fez o certo, cravou um final feliz e romântico entre ele e sua base. É quase um remake daquele enredo e drama - atletas de 32 anos, no auge da carreira, regressam ao clube de sua formação e projeção exatamente depois de 12 anos de protagonismo no futebol europeu.
O craque santista também tinha proposta do Flamengo, poderia enriquecer muito mais na Gávea, desfilar em campo para a torcida mais numerosa do mundo, porém optou pela magia do bairrismo: desenterrar do ostracismo e da sombra o manto 10 de Pelé.
No Peixe, a princípio, vai ganhar 2,4% do que recebia no Al-Hilal, da Arábia Saudita. Lá ele embolsava 6,6 milhões de euros mensais (cerca de R$ 40 milhões). Agora a remuneração de Neymar será de 160 mil euros (cerca de R$ 970 mil), o que representa uma queda de 97,6% no valor quando comparado ao time saudita, que o contratou em agosto de 2023.
E Neymar sempre teve salários astronômicos: no PSG, tinha um contrato de 30 milhões de euros anuais (R$ 111 milhões, à época) e, no Barcelona, o jogador faturava 15 milhões de euros por ano, o que equivalia a R$ 53 milhões no período.
Ou seja, sua escolha foi por amor. Se serão cinco meses ou cinco anos, tanto faz, ele devolveu o protagonismo das transmissões esportivas para o país, criou uma nova esperança e curiosidade.
O confronto com o Botafogo-SP, às 21h35min, na Vila Belmiro, na próxima quarta-feira, seria apenas mais uma rodada insípida do Campeonato Paulista. Mudou radicalmente de proporção. Deve ser a reestreia do Príncipe, do menino da Vila. Ninguém vai querer perder sua transformação em adulto. _
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