04 DE FEVEREIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
AS ESTIAGENS DO FUTURO
Com maior ou menor frequência, secas e estiagens, de diferentes intensidades, não são novidade no Rio Grande Sul. Tampouco são raros os episódios em que a falta de chuva na estação mais quente do ano reduz produtividades no campo ou, pior, dizima culturas de verão, com reflexos não apenas na renda no setor rural, mas também no PIB do Estado. As séries históricas estão aí para comprovar, como foi o caso recente de 2020, quando a escassez de precipitações fez os agricultores gaúchos perderem quase a metade das lavouras de soja e a economia do Estado teve um tombo de 7%, enquanto na média nacional, pelo impacto da pandemia, a retração foi de 4%
A solução para o problema existe e é conhecida: é a irrigação. O Estado até conseguiu avanços consideráveis após a seca de 2012, especialmente para o milho, mais sensível ao déficit hídrico. Mas em seguida estagnou, à medida que o Rio Grande do Sul passou a ser beneficiado por várias safras com precipitações satisfatórias. Estima-se que apenas 10% da área plantada com o grão seja irrigada. Há interesse dos produtores em elevar esta cobertura, mas existem entraves de ordem burocrática e queixas de dificuldade para licenciamento ambiental. Calcula-se que no Rio Grande do Sul existam hoje cerca de 230 mil hectares de lavouras de sequeiro - soja, milho e feijão - que não recebem apenas a água que cai do céu. A extensão, porém, poderia ser ao menos quatro vezes superior se existissem reservatórios nos locais onde são viáveis.
A nova estiagem que castiga o Estado e os prejuízos advindos do drama climático reiteram o alerta de que já passou da hora de o Rio Grande do Sul ter respostas mais consistentes para períodos de falta de chuva. É inescapável ser previdente e evitar que, nos próximos verões secos, a mesma discussão se repita, sem o encaminhamento de soluções. Se existem barreiras burocráticas, é preciso que os envolvidos acelerem desde já uma profunda análise para simplificar os trâmites e, na área ambiental, discutir de maneira técnica onde é possível avançar de forma sustentável. Mas não é crível partir do pressuposto de que produtores, agricultores ou pecuaristas não têm interesse em proteger os ativos naturais de suas propriedades. Pelo contrário. É a manutenção do equilíbrio do ecossistema local que permite a perenidade do próprio negócio.
Estão em curso tratativas entre Casa Civil do Estado e Ministério Público para tentar superar impasses que hoje travam projetos de irrigação. Aguarda-se que cheguem a um bom termo. Se necessário, universidades, órgão ambientais, Assembleia e produtores também devem se somar ao esforço na busca por alternativas factíveis e com aplicação célere para enfrentar as estiagens que virão. Ainda mais que as mudanças climáticas tendem a deixar inclusive o regime de chuvas mais instável. É indispensável, ao mesmo tempo, ter linhas de financiamento adequadas, oferta de energia no campo para os equipamentos e promover manejos conservacionistas que ajudem na manutenção da umidade do solo.
Uma significativa contribuição para buscar esta convergência está sendo dada pelo programa Atualidade, da Rádio Gaúcha. Ontem e hoje entrevistas e debates estão sendo conduzidos desde municípios de peso na agropecuária do Estado, com a participação de produtores, líderes locais e autoridades da área. É uma forma de o Grupo RBS colaborar, ao incentivar o diálogo franco entre quem enfrenta as adversidades da falta de chuva no dia a dia e quem tem o poder atuar para minimizá-las, espera-se, em um futuro breve.
Não é possível ainda esquecer que a importância da irrigação vai muito além da mitigação de perdas.. É meio para aumentar a produtividade, na agricultura e na criação de animais, gerando renda e riqueza que extrapolam o campo. Reverberam elevando a demanda de outros setores, como comércio, serviços e indústria, nutrindo um círculo virtuoso em toda a economia gaúcha. É um tema, conclui-se, de Estado.
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