06 DE JULHO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
UM PERFIL PARA O MEC
O Brasil vive a insólita situação de estar há mais de 50 dias sem um ministro da Saúde, enquanto transcorre uma crise sanitária histórica, e há mais de duas semanas sem um titular no MEC. No caso da educação, há, da mesma forma, questões urgentes que exigiriam a presença de um líder à altura do desafio, mas o presidente Jair Bolsonaro ainda hesita na escolha após a desastrada passagem relâmpago de Carlos Alberto Decotelli pelo cargo. Esperava-se que a novela tivesse um último capítulo no fim de semana, com a indicação de Renato Feder, que desempenha a função de secretário da área no Paraná, mas a rede de intrigas entre alas que cercam o Palácio do Planalto fez o nome ser descartado, prolongando a incerteza.
Feder tinha a seu favor o fato de ser um conhecedor da educação. A nova vacilação de Bolsonaro traz de volta o temor de que o presidente não tenha se rendido ao óbvio: o país precisa de alguém técnico à frente da pasta e experimentado na área, e não um agitador ideológico, o único figurino em que se enquadrava Abraham Weintraub. Esta segunda opção de perfil, entretanto, é a que apetece aos seguidores mais fanatizados de Bolsonaro, grupo que vê como prioridade uma permanente guerra cultural contra inimigos reais ou imaginários, sem que as questões estritamente relacionadas ao ensino e à aprendizagem estejam em primeiro plano.
Mas o que o Brasil precisa é exatamente o contrário. Frente à necessidade de coordenar políticas de longo prazo e liderar estratégias para contornar os obstáculos criados pela pandemia do novo coronavírus, se impõe ainda mais alguém com características de técnico, que seja um especialista no assunto e ainda agregue capacidade de diálogo e articulação. Insistir na partidarização excessiva e na ideologização do MEC seria persistir no que vem dando errado há um ano e meio.
Nunca é demais repetir que a educação é o pilar para o desenvolvimento de qualquer nação e, por isso, é uma dos mais importantes áreas dos governos em qualquer canto do mundo. Deveria ser questão de Estado, e não de governo. É por meio da aprendizagem que crianças e jovens conquistam a dignidade e a cidadania plena, constroem o seu futuro e o destino do país onde vivem.
Há uma longa jornada para melhorar a educação no Brasil, iniciando com uma atenção especial para o ensino básico. Mas, no momento, há tarefas que emergiram com a pandemia e a paralisação das aulas presenciais, como a definição do calendário de realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a votação do Fundeb, para o financiamento da Educação Básica, e uma solução para o ano letivo.
Independentemente do nome escolhido para ocupar o ministério, o mais importante é que seja alguém capaz reconstruir as pontes dinamitadas, de pacificar a área, de retomar uma interlocução construtiva com os reitores e as universidades e de trabalhar com Estados e municípios para apoiar e replicar as melhores práticas desenvolvidas Brasil afora, mesmo que criadas por gestões não alinhadas com o atual governo federal. Os desafios são significativos e o tempo é curto, mas com disposição para o diálogo e foco será possível sobrepujá-los.
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