03
de janeiro de 2013 | N° 17301
REPORTAGEM
ESPECIAL
Boa notícia para a Família
Brasil
O
ano de 2013 começa com uma boa nova: Luis Fernando Verissimo está de volta à ativa.
O escritor conta com exclusividade a ZH como vai a recuperação da gripe que o
levou à UTI do Hospital Moinhos de Vento.
Na
antevéspera do Natal, a menina Lucinda Heather Verissimo Sykes, de quatro anos,
começou a correr pela casa da Rua Felipe de Oliveira, gritando:
– Boas
notícias! Boas notícias! O vovô está andando sozinho!
As
notícias são realmente boas. O avô de Lucinda, marido de Lúcia, pai de
Fernanda, Mariana e Pedro, criador do Analista de Bagé, de Ed Mort, da Velhinha
de Taubaté e da Família Brasil, não apenas está andando: está também escrevendo
novamente. Depois de 24 dias de internação hospitalar, 12 deles na UTI do
Hospital Moinhos de Vento, e mais 19 dias de repouso em casa, Luis Fernando
Verissimo voltou a escrever suas crônicas e a desenhar seus personagens, para
alívio e alegria de seus milhares de admiradores em todo o país.
Lucinda
gritou ao presenciar um dos exercícios de fisioterapia a que o cronista vem se
submetendo para reverter a perda de massa muscular decorrente da internação e
do tratamento:
– Quando
saí da cama pela primeira vez, não conseguia caminhar. Tive que me abraçar na
enfermeira. Ainda estou reaprendendo a andar – conta o cronista, na primeira
entrevista depois do grande susto.
Tudo
começou no dia 21 de novembro do ano passado – agora quem conta é Lúcia, a
diligente esposa do escritor. Chegados de uma viagem, ela e ele apresentavam
sintomas de gripe, mas já tinham consultado o médico. Depois do almoço daquela
quarta-feira, ele se recostou no sofá da sala e começou a respirar com
dificuldade. Lúcia e a filha Fernanda pensaram que ele estava tendo um ataque
cardíaco e o levaram direto para a emergência do hospital, onde já os esperava
o cardiologista Sandro Gonçalves.
– A
partir daí, já não lembro de mais nada – interrompe Verissimo.
Mas
Lúcia lembra, ainda com emoção. Ele foi colocado no soro e encaminhado para uma
sala de espera em que estavam outros pacientes nas mesmas condições. Queixava-se
de dor no peito. O enfermeiro fez um teste, perguntando qual era a intensidade
da dor numa escala de um a 10. A resposta foi preocupante:
– Oito!
Voltar
a escrever foi desafiador
Na
base do Isordil, ele foi encaminhado para a Sala Vermelha e dali para a UTI,
onde ingressou no sono induzido e nos sonhos e delírios que começa a relatar a
partir da crônica de hoje, na página 2.
– Tinha
que escrever primeiro sobre essa experiência – justifica-se.
O
cronista do Brasil ainda está debilitado, aceita auxílio para levantar-se da
cadeira, mas já anda sozinho pela casa e até pelo pátio da propriedade que foi
de Erico Verissimo. Três vezes por semana, faz alongamentos e caminhadas sob
orientação do fisioterapeuta Carlos Eduardo Saldívia, que já chegou na casa com
uma história curiosa para o folclore familiar: sua mãe trabalhava como rodomoça
do ônibus que levou Erico em sua última viagem a Cruz Alta, em outubro de 1975.
Na
ocasião, ele presenteou-a com um livro autografado e com um anel comprado em
Lajeado. Hoje, o filho ajuda Verissimo a reaprender a andar. Para voltar a
escrever, porém, ele não precisa da ajuda de ninguém. Sequer submeteu os textos
à leitura dos familiares que acompanham com atenção sua convalescença. Mas não
foi tão fácil como poderão supor os leitores de seus talentosos textos:
– Foi
difícil, não fluiu. As pessoas não sabem o quanto a gente sofre para escrever –
queixa-se.
Bom
para os leitores. Como ensinava o inglês Samuel Johnson, o que é escrito sem
esforço é lido sem prazer.
Lucinda
tem razão: é a melhor notícia deste início de ano.
nilson.souza@zerohora.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário