quarta-feira, 3 de dezembro de 2014


03 de dezembro de 2014 | N° 18002
ARTIGO

GESTO DE RESPEITO AOS FILHOS

Quando as grandes famílias agrícolas constituídas por pais, filhos, avós e tios foram para as cidades, elas se fracionaram em famílias nucleares, formadas apenas pelo casal e pelos filhos. Nessa nova ordem social, o pai se tornou um operário que saía de casa para garantir o sustento da família, enquanto a mãe assumia como tarefa exclusiva o cuidado da prole, gerando-se um novo paradigma: o do instinto materno, alicerce da orientação legal que atravessou os séculos 19 e 20.

O mito de que o amor pelo filho é um sentimento inerente à condição feminina aparentemente foi uma forma de a sociedade compensar a desvalorização da mulher, em particular pela sua dedicação exclusiva ao trabalho doméstico. Dessa forma, procurou negar que o amor materno, assim como o paterno, é conquistado no convívio com a criança, podendo variar de acordo com a cultura e as condições psicológicas dos pais.

Na verdade, a biologia não é suficiente para estabelecer um vínculo de amor entre a mãe e seu filho, o mesmo valendo para o pai. Da mesma forma, não é a tendência sexual dos pais que os capacita para exercerem as funções indispensáveis ao desenvolvimento de uma criança. O que não pode faltar a uma criança é o amor, sob pena de ela se tornar um corpo desabitado, um ser sem alma.

A guarda conferida pela lei atual a um dos genitores coloca o outro numa posição secundária em relação aos filhos, o que contribui para o estabelecimento da alienação parental. Esse fator tem demonstrado constituir-se num verdadeiro crime contra os sentimentos dos filhos e dos pais cujo convívio foi dificultado ou impedido pelo cônjuge que detinha a guarda.

Médico psiquiatra e psicanalista


GLEY P. COSTA

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