14
de dezembro de 2014 | N° 18013
FABRÍCIO
CARPINEJAR
SOS
maternidade
O
que tenho de amigas, entre 20 a
35 anos, que estão desesperadas para ter um filho.
Dizem
que a principal aspiração é engravidar. Contam que incham os seios ao imaginar
o berço perto da cama. Não passam impunes diante de um carrinho ou de uma
barriga de gestante na rua. Mas nenhuma delas mais acredita no amor. Não
apostam na convivência. Se pintar um namoro é lucro, mas todo o investimento e
o esforço jogam para a maternidade.
Julgam
o filho indispensável. Por sua vez, o marido é tratado como secundário e,
infelizmente, irrelevante. Elas não pretendem sofrer com as desventuras, as
separações, a rotina em comum. Buscam atalhar, cortar caminho e ir direto ao
ponto. Partem da certeza de que não dependem de nada (nem namorado, nem
emprego, muito menos estabilidade). Podem recorrer à inseminação ou a um caso
em que assumirão os riscos.
O
que considero uma grande pena e um monumental capricho. E incluo neste processo
também a adoção, que pede o equilíbrio da gangorra.
Não
podemos subestimar a paternidade. Não podemos menosprezar a educação que vem do
amor.
Antes
de encontrar um pai para ter um bebê, deve-se amar uma companhia que se tornará
pai por merecimento. E definir um pai é mais do que preencher uma linha da
certidão de nascimento, é garantir o sentido da vinda ao mundo para a criança.
O
filho é o resultado da intimidade, a consagração da confiança do casal, não uma
solução para todas as carências de uma mulher.
Se
não suporta as carências de uma relação, como tolerar as demandas infinitas de
um filho? A convivência do casal é a preparação para a convivência com um
filho.
Querer
ter um filho somente para si não é prova de independência, e sim um apelo
infantil para apressar a maturidade. Ninguém é onipotente e autossuficiente
para dar conta – absolutamente sozinho – do desafio da criação.
É
lindo sonhar com o enxoval, o chá de fraldas, a mão no ventre, os primeiros dos
primeiros movimentos. Só que o filho precisa ser visto, desde o início, como um
futuro adolescente, um futuro adulto, um futuro de conflito e oposição.
Filho
não é maleável, um ser vazio para transferir arquivos. Já vem com temperamento:
seu grito no nascimento é personalidade, seu riso é personalidade. E parte da
personalidade do pai estará sempre ali, estando próximo ou não.
Não
se tem um filho, aceita-se um filho. Requer uma responsabilidade ininterrupta,
sem um dia de folga. Atirar-se para a maternidade ansiosa e inconsequentemente
é um erro que gera outros erros. E não adianta esperar que a terapia resolverá
tudo, a função da terapia é resolver durante os problemas.
A
figura paterna representa um sadio contraponto, uma distinta possibilidade de
admiração e de influência, que aumenta as chances de escolha do rebento.
Nem
estou falando em “ajudar a cuidar”, expressão usada preconceituosamente para a
paternidade. No casamento, homem não é coadjuvante da casa, foi um dia, mas não
é mais. Tem solidão suficiente e dedicação ao lar para superar a imagem de
simples apoio. Homem não é pai para acordar de madrugada ou trocar as fraldas.
Não deve ser restringido à troca de turno. É importante para orientar,
aconselhar, proteger, inspirar, planejar, fazer junto.
Assim
como o pai é fundamental para a mãe não sufocar de amor sua criança. Retira
aquela exclusividade doentia, aquela adoração desmedida, aquele monopólio da
atenção. Pois a criança quando sozinha e afastada de um pai acaba substituindo
as diversas necessidades psicológicas e projeções da mulher. Recebe o fardo de
ser o único da vida de sua mãe. Não apenas o filho único, o único mesmo! Um rei
condenado a assumir o trono ainda pequeno, antes mesmo de descobrir quem é.
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