08
de dezembro de 2014 | N° 18007
EDITORIAL
ZH
A MANOBRA PARA RESSUSCITAR A CPMF
O
governo comete um grave erro ao tentar recriar o imposto que durante muito
tempo foi mantido com o pretexto de que iria qualificar a saúde pública.
Está
condenada ao fracasso a ideia de que o governo poderá se safar da
irresponsabilidade com as contas públicas se conseguir recriar a famigerada
CPMF. A Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira seria apenas um
artifício para corrigir o déficit público, sem qualquer vínculo com sua
intenção original.
Por
isso mesmo, a proposta, defendida de forma dissimulada por aliados governistas,
deve ser rechaçada. O que precisa prevalecer é a adoção de mecanismos que levem
à austeridade, e não a solução simplista que provoque o retorno de um imposto
que a sociedade se recusa a pagar.A CPMF passou a vigorar no final dos anos
1990, como sucedânea de um imposto também definido como provisório, e por muito
tempo foi apresentada à população como um recurso legítimo de financiamento da
saúde pública.
Argumentou-se
à época que somente uma verba extra, cobrada de toda movimentação financeira
nos bancos, seria capaz de permitir a melhoria dos serviços. Foi um engodo. O
imposto passou a ser desviado para outros fins, até ser completamente
desmoralizado. Em 2007, por decisão soberana, o Congresso decidiu que a
vigência da CPMF não poderia mais ser prorrogada. O que era para ser
emergencial havia se transformado em tributo permanente, sem efeitos visíveis
na qualificação da saúde.
Esta
não é a primeira vez que o governo tenta ressuscitar a tal contribuição. Nas
investidas anteriores, também em governos comandados pelo PT, o projeto não foi
levado adiante pelas reações negativas que provocou, não só entre empresários e
economistas, mas entre a população em geral. A CPMF seria um imposto justo se,
com rigorosa aplicação dos recursos, oferecesse uma chance concreta de
recuperar um setor degradado por erros de gestão e por corrupção.
Não
foi o que aconteceu no período de quase uma década em que vigorou, e nada
indica que venha a ser moralizado se voltar a vigorar apenas como disfarce de
uma artimanha arrecadatória. É sabido que o governo trabalha com a hipótese de
contar com o achaque, que renderia em torno de R$ 80 bilhões em 2015, para
chegar ao prometido superávit de pelo menos R$ 100 bilhões.
Não
há, portanto, nenhuma relação entre a pretendia volta da CPMF e um eventual
esforço para que as pessoas não sejam tratadas com a crueldade das filas do
SUS. O que o governo precisa para enfrentar o desarranjo fiscal é da sabedoria
dos cidadãos comuns: gastar o que arrecada. O país deve equilibrar contas,
controlar a inflação e voltar a crescer. Não é pouco. Mas as soluções não estão
em nenhuma mágica.
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