sábado, 20 de dezembro de 2014


20 de dezembro de 2014 | N° 18019
ARTIGO - FLAVIO JOSÉ KANTER*

ENVELHECERSEM FICAR VELHO?

Campanha publicitária prometeu vantagens para quem se cuida. Uma delas: envelhecer sem ficar velho. A ideia é preconceituosa, discrimina. Alguém quer nascer sem ficar
criança, adolescer sem se tornar adolescente, “adultar” sem ficar adulto? Por que não ficar velho? Cada fase da vida tem características que devem ser vividas. Por que não?

No Wall Street Journal de 30 de novembro, há uma matéria de Anne Tergesen embasada em pesquisas, “Por que tudo que você pensa sobre envelhecimento pode estar errado”.

Comparou nove expectativas de velhice entre os de 18 a 64 anos, com a experiência dos que têm mais de 65. Os jovens esperam que ocorra mais do que os velhos dizem ocorrer de fato: perda de memória, incapacidade para dirigir, adoecer, inatividade sexual, sentir tristeza ou depressão, não se sentir necessário, solidão, falta de dinheiro, ser um peso para os outros.

A autora derruba com provas científicas mitos comuns sobre velhice:

1)Depressão prevalece em velhos – segundo pesquisas, a sensação de bem-estar aumenta até os 70 anos e estabiliza;

2) Declínio cognitivo – exceto nos demenciados, isso não é verdade. Comparando resultados de testagens com desempenho no mundo real, viu-se que os testes não reproduzem capacidades reais;

3) Trabalhadores velhos são menos produtivos – o Instituto Max Planck, de Munique, pesquisou por quatro anos o desempenho na fábrica da Mercedes-Benz. Descobriu que velhos cometeram menos erros graves do que jovens;

4) Há mais solidão – estudos mostram que após os 50 há depuração dos contatos sociais, estreitam-se os de maior significado, afinidade, os menos tensos;

5) Criatividade declina com a idade – há mais de um século é demonstrado que não é assim. Pesquisa de Chicago identificou que em criatividade conceitual os jovens lideram, na experimental são os velhos. 6) Mais exercício é melhor – há um nível ótimo para velhos se exercitarem, além do qual se tornam semelhantes aos que não se exercitam.

Marcello Blaya diz que velhice é diferente da decrepitude. Velhice é bom, decrepitude é ruim. Meu pai dizia que ruim é não ficar velho...


*Médico - FLAVIO JOSÉ KANTER

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